
Divino Amigo Vem, por Emmanuel
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Existem situações que nos colocam, usando expressões vulgares e populares:
“numa saia justa” e “contra a parede”. Ficamos naquela situação bem
constrangedora: “falo ou não falo”, ou “denuncio ou não?” e mesmo “guardo comigo
ou compartilho o que vi e sei o que ninguém viu ou ficou sabendo?”. São
situações comuns do cotidiano diante de escândalos variados, na vida social ou
familiar, manipulações ocultas e lesivas a variados interesses e mesmo
leviandades e mentiras que tivemos oportunidade de saber ou descobrir. O que
fazer com essas questões?
Desmascaremos a hipocrisia, a mentira? Ou deixamos passar? É engraçado que
muitas vezes até provas temos, contra pessoas consideradas inatingíveis. São os
bastidores diversos que ninguém conhece, mas um de nós ou um grupo teve
oportunidade de saber ou descobrir.
Não é realmente muito constrangedor? Especialmente levando-se em conta
tratar-se, em inúmeros casos, de pessoas de nosso relacionamento ou muito
conhecidas, consideradas no meio em que atuam. Até mesmo no meio familiar isso
acontece, onde a maledicência e a falsidade também costumam frequentar. Se
ampliarmos para os demais segmentos, não é surpresa para ninguém o que já
ocorre, agravado com as chamadas fake news.
Nada de assustador até aqui, levando-se em conta nosso ainda precário estado
moral do planeta. E nele estamos porque sintonizamos com seu estágio atual.
Todavia, após tais considerações, importante adentrarmos para a razão da
presente abordagem. Primeiro: a frase que a intitula está identificada no
parágrafo seguinte e inclui a pergunta que acentuamos acima, com alguns
exemplos. Acompanhe a seguir.
A frase é do Espírito São Luiz, data de 1860, e está no capítulo 10 – Bem
Aventurados aqueles que são misericordiosos – de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, item 21. Referido item é uma pergunta: Há casos em que seja útil
revelar o mal de outrem? E na resposta dada pelo espírito autor, está a frase
usada como título. Numa resposta breve, de poucas linhas, a sabedoria que alinha
a prudência com a firmeza moral.
A resposta na íntegra indico ao leitor buscar na obra citada, mas separo aqui,
com objetivo didático, trechos parciais do texto, a fim de embasar a conclusão
do assunto:
1 – Essa questão é muito delicada, e é aqui que é preciso apelar para a caridade
bem compreendida. – Note que, apesar da dificuldade com tais questões, a
sugestão de apelo à caridade é muito expressiva. Denúncias ou desmascaramentos,
informações reveladoras contra a hipocrisia e a mentira, não dispensam a
caridade em toda sua amplitude. É preciso muito cuidado e prudência para que o
desejo de humilhar alguém, rancores guardados ou outras pretensões agressivas e
egoísta, não se sobreponham sobre o interesse coletivo e real objetivo de uma
denúncia. Note-se a amplidão nesse início de resposta à questão. É preciso
refletir muito.
2 – É preciso preferir o interesse da maioria ao interesse de um só. – Será que
as situações em que julgamos ser necessário agir estamos pensando no interesse
coletivo ou estamos pensando na auto projeção pessoal? A frase exige também
muita reflexão, inclusive colocando dentro do contexto completo da resposta, que
novamente recomendo ao leitor ler atentamente.
3 – Segundo as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode ser um
dever, porque vale mais que um homem caia, do que vários se tornarem enganados
ou suas vítimas. – Perceba-se a clareza de duas condicionantes: “segundo as
circunstâncias” e “pode ser um dever”. No segundo caso, a afirmativa está
condicionada ao “pode”, que requer minuciosa análise, o que também acontece com
o início da afirmação: “segundo...”.
4 – Em semelhante caso, é preciso pesar a soma das vantagens e dos
inconvenientes. – Aqui está o segredo da análise bem ponderada e sugerida. Bem
desafiador avaliar a dimensão de uma denúncia ou de um enfrentamento à
hipocrisia e à mentira. Até que ponto isso será útil? Até que ponto temos
referido direito, segundo as circunstâncias? Quais os desdobramentos de uma ação
que desmascare uma situação ou uma pessoa e mesmo um grupo? É nesse entrechoque
de opiniões e análises que amadurecemos nos difíceis processos do relacionamento
humano.
Notem os amigos que a afirmação que dá título na abordagem e que está no
capítulo e item citados, acrescenta que “pode ser um dever”, não afirmando que
é, mas que pode ser. Como identificar a linha tênue desse limite? Linha que
apresenta igualmente o apelo à caridade, mas que informa igualmente que “(...)
porque vale mais que um homem caia, do que vários se tornarem enganados ou suas
vítimas (...)”.
É preciso muito bom senso mesmo, um alto grau de discernimento, para não nos
deixarmos levar por paixões – muitas vezes levianas e agressivas nessas ações –,
para que sejamos justos sim, sem nunca esquecer a misericórdia.
O amor é Lei de Deus em tudo. A lei divina é justa, mas igualmente
misericordiosa. Não nos esqueçamos disso.
Quem de nós já não se viu em situações assim... É o bom senso que ainda
precisamos desenvolver através justamente dessas experiências desafiadoras que
nos habilitam à melhor capacidade de lidar com elas.
Duas Graves Lições: por Orson Carrara
Desmascarar a Hipocrisia e a Mentira Pode Ser Um Dever : por Orson Carrara