
Mesas Girantes, por Orson Carrara
Francisco de Assis Carvalho Cajazeiras é natural de Fortaleza (CE), onde reside. Conferencista com agenda de palestras e cursos para as casas espíritas, tem participado de diversos congressos. É fundador e atual presidente do Instituto de Cultura Espírita do Ceará e ex-vice-presidente da Federação Espírita do Estado do Ceará. Além de médico clínico e cirurgião geral, é também professor na Universidade de Fortaleza (Unifor) e Faculdade Integrada do Ceará (FIC), sócio-fundador e atual presidente (2005/2006) da Associação Médico-Espírita do Ceará e delegado do Grupo de Estudos Doutrinários no Hospital da Polícia Militar do mesmo Estado.
Folha Espírita : O que é ortotanásia?
Francisco Cajazeiras : Ortotanásia, do ponto de vista etimológico, seria a morte
natural, a morte reta, a boa morte, a morte normal. Porém, do ponto de vista
semântico, nada mais é que a eutanásia passiva, ou seja, aquele ato de se
abreviar a vida de alguém sob a alegação de que não se deseja ver o paciente
sofrer e, para isso, abstendo-se de usar os métodos terapêuticos capazes de
prolongar a sobrevivência do doente.
FE : Então não há diferença entre eutanásia e ortotanásia?
Cajazeiras : Reitero minha maneira de enxergar na ortotanásia a própria
eutanásia. Assim, podemos enumerar dois tipos de eutanásia: a ativa, quando se
utiliza algum método para diminuir o tempo de vida, pelo uso de alguma
substância letal, por exemplo; e a eutanásia passiva ou ortotanásia, quando se
deixa de usar um procedimento médico para prolongar a vida do doente.
FE : E o que é distanásia?
Cajazeiras : A distanásia ocorre quando o médico obstina-se em não reconhecer o
processo de morte, muitas vezes por falta de humildade para compreender, e se
debate no uso de procedimentos cada vez mais sofisticados para manter o doente
vivo a qualquer custo, embora já esteja em processo tanatológico.
FE : O uso exagerado da tecnologia mantendo o doente vivo a qualquer custo não
dificulta ao espírito se desprender da matéria no tempo certo?
Cajazeiras : Quando isso ocorre, sim. Mas eu diria que, na prática, essas coisas
não se fazem com tanta habitualidade. Temos de considerar que o médico ainda tem
um grande poder de persuasão, ou seja, de um modo geral, ele é capaz de
direcionar a família para a sua decisão. Vamos supor que ele diga: Olha, seu pai
não tem mais jeito, qualquer coisa que se faça vai ser inviável, o coitadinho
vai sofrer mais se eu adotar desnecessariamente algum procedimento mais
drástico... O que o familiar, que não entende das técnicas e dos procedimentos
terapêuticos da Medicina, vai dizer para o médico em tais circunstâncias? É uma
verdadeira indução. Então, pode-se até dizer que, de um modo geral, na prática,
o uso exagerado não acontece. Todavia, se o médico, atendendo ao pedido da
família, aliás como recomenda a ética médica, mantiver os procedimentos
meramente protelatórios em pacientes em franco processo de morte, certamente
estará provocando dificuldades para o desprendimento do espírito de seu corpo
físico.
FE : Então, o manter vivo a qualquer preço seria desaconselhável?
Cajazeiras : Quando nos defrontamos com um paciente para o qual o uso de
medicamentos e aparelhagens sofisticadas não resulta em nada de positivo e até
piora sua situação, não há justificativa para utilizá-los. Usar aparelhagem
pesada quando você não tem resposta alguma, quando os benefícios são claramente
escassos ou inexistentes, é estar diante da distanásia. Precisamos saber qual a
indicação técnico-terapêutica, o que posso obter dessa terapêutica,
independentemente de o paciente ser terminal ou não; qual a resposta que o
tratamento trará para esse doente em termos de evolução da sua doença.
FE : O paciente que está fora de possibilidade de tratamento, para o qual a
Medicina não tem mais nada a fazer, deveria ficar na UTI ou ter um
acompanhamento mais humano em alojamento especial junto da sua família?
Cajazeiras : Entendo que o paciente de UTI é aquele que tem uma caracterização,
uma indicação precisa. Ninguém vai para a UTI por qualquer coisa. É preciso que
seja um paciente que tenha possibilidade de recuperação e que necessite de um
acompanhamento mais próximo por parte de profissionais médicos e de enfermagem,
durante 24 horas, a fim de que ele possa sair do seu quadro clínico. Então, eu
diria que um paciente em processo de morte, ou seja, que já esteja caminhando
para óbito, não tem necessidade de UTI. Mas, em algumas intercorrências
clínicas, quando o processo de morte já é mais prolongado, ele poderia entrar na
UTI, para resolução específica daquela intercorrência, e voltar para uma
enfermaria e em um menor espaço de tempo para a sua residência, onde vai contar
com todo o apoio e a assistência afetiva de sua família.
FE : Como deve se portar o médico espírita diante da expressão usada por médicos
se parar, parou?
Cajazeiras : O médico espírita precisa, levando em consideração que conhece a
questão espiritual, dar apoio espiritual ao doente. Quando o doente é aberto à
questão espiritual, e de um modo geral ele o é, independentemente da religião
que professe, o médico deve ajudar o paciente terminal a dar um novo significado
para a morte e para a pós-morte. Isso precisa começar a ser estabelecido e é um
trabalho importante que se iniciou no pioneirismo da eminente médica suíça
Elizabeth Kübler-Ross. Todavia, já temos dados interessantes para disponibilizar
aos hospitais e clínicas que queiram promover um trabalho multidisciplinar e
amparar o doente nesse sentido. O médico espírita inserido nesse contexto vai
dar não só apoio do ponto de vista médico, mas também do ponto de vista
psicológico e espiritual, naquilo que lhe for possível, obviamente respeitando a
vontade do paciente. Saberá aceitar a realidade do processo desencarnatório, mas
se interessará pelo seu paciente não apenas como um ser humano, como um corpo em
desequilíbrio, mas também como um ser espiritual, imortal e em caminhada
evolutiva. No mínimo, ele pode orar pelo doente.
FE : Você não acha que se houvesse uma abertura por parte da direção dos
hospitais, nós da casa espírita deveríamos nos habituar a levar aos enfermos uma
palavra de conforto, preces e até mesmo o passe?
Cajazeiras : Olha, eu acho que sim, e teríamos bons resultados, respeitando
obviamente a crença de cada um e a receptividade consentida. Eu posso dizer que
há muito mais acolhimento a esse trabalho do que se imagina. Então os médiuns e
outros trabalhadores espíritas poderiam desenvolver essa atividade levando
aquilo a que você se reportou, sem uma postura acadêmica e sem proselitismo.
Isso, com certeza, faz parte da ressignificação da morte para o paciente.
FE : Você acha que a ortotanásia atende a apelos econômicos?
Cajazeiras : A possibilidade de aumentar a sobrevida do doente terminal traz
problemas éticos, médicos, sociais e econômicos. Indiscutivelmente, se a família
encaminha seu doente para uma UTI de hospital particular, pode sofrer muito do
ponto de vista financeiro. Para o Estado também não deixa de ser oneroso. Mas é
preciso que levemos em consideração, no caso, também a questão ética, pois não
podemos olvidar que o ser humano vale muito mais que o custo financeiro advindo
do tratamento. Eu acho que o Estado tem obrigação, nos casos de pacientes que
não podem pagar, de arcar com as despesas de UTI, pois não lhe é possível ficar
em descompasso com o progresso tecnológico que a medicina alcançou, alegando
problemas financeiros, quando é uma vida que está em pauta. Infelizmente, o
Estado não tem agido de maneira satisfatória no que se refere à educação e à
saúde. Assim, a ortotanásia, como solução velada no que tange a pacientes
pobres, pode vir a ser uma triste realidade de distorção de objetivos. Com isso,
os pacientes mais humildes, como boa parte dos que são atendidos pelo SUS ou
pelos convênios que pagam pouco, podem ser vitimados pela ortotanásia motivada
por meras questões econômicas. Já quando se trata de pacientes que podem pagar
UTI particular, pode ocorrer o inverso com o hospital, podendo fazer vistas
grossas para a distanásia, atendendo igualmente a problemas econômicos, haja
vista que a permanência do doente por prazo mais dilatado poderá aumentar a
renda hospitalar. Na minha maneira de ver, o médico não pode atender a esses
apelos simplistas, devendo manter a sua neutralidade para que se leve em
consideração o melhor para o paciente independentemente de tal ou qual interesse
menos digno.
É preciso encarar a vida nos termos de seu objetivo natural e a morte como
fenômeno comum a que todos temos de enfrentar ao término de cada existência.
Essa compreensão nos levará a ter o devido respeito para com ambas as situações,
ou seja, não iremos atrapalhar nem a vida nem a morte. Não devemos forçar nada
além daquilo que seja possível em termos de vida, como também não tirar a vida
de alguém até que lhe chegue o momento aprazado.
Não podemos esquecer a explicação que o espírito São Luis transmite a Allan
Kardec quanto este lhe pergunta se seria permitido abreviar a vida de alguém
agonizante que, sofrendo de forma cruel e sem esperanças, pudesse, com o gesto
extremo, ter poupado seus sofrimentos. São Luis conclui que muitas vezes é no
último minuto que o espírito agonizante repensa os lances de sua existência.
Fonte: http://www.folhaespirita.com.br/show.php?not=653
Dia 01 de 1880
Nasce na cidade de Sacramento, MG, Eurípedes Barsanulfo. Desencarna em 1º de
novembro de 1918.
Dia 01 de 1985
Divaldo Pereira Franco concede entrevista de 15 minutos à Rádio Paralelo 22, de
Johannesburg, África do Sul.
Dia 02 de 1827
Nasce em Tulle, França, Pierre-Gaëtan Leymarie. Desencarna em 10 de abril de
1901, em Paris.
Dia 02 de 1980
Em São Paulo, SP, desencarna Silvino Canuto de Abreu, jornalista, escritor,
conferencista e pesquisador espírita. Nascido em Taubaté, SP, em 19 de janeiro
de 1892.
Dia 02 de 1981
Divaldo Pereira Franco recebe o título de cidadão honorário de Uberlândia, MG.
Dia 02 de 1995
Divaldo Pereira Franco concede entrevista à TV C. 12 de Cochabamba, Bolívia.
Dia 03 de 1944
Nasce em Apucarana, PR, Milton Gonçalves, trabalhador espírita da região
noroeste do Estado. Foi Presidente da 8ª União Regional Espírita, sediada em
Paranavaí, onde desencarna em 2 de outubro de 1994.
Dia 03 de 1949
Em Liège, Bélgica, desencarna José Lhome, divulgador do Espiritismo, Presidente
da Federação Espírita da Bélgica. Nascido na mesma cidade, em 14 de junho de
1881.
Dia 04 de 1978
Em Teresópolis, RJ, o Grupo Espírita Isabel, a Redentora realiza a Primeira
Semana Espírita da cidade,... Saiba mais...