
Mesas Girantes, por Orson Carrara
Médico neurocirurgião, Ricardo Leme, 37 anos, é também doutor em Ciências, na área de Anatomia Funcional, pela USP. No V Congresso Nacional da Associação Médico-Espírita do Brasil (Mednesp), que aconteceu de 26 a 28 de maio, em São Paulo (SP), ele tratou do tema Neurobiologia da Fé, destacando que a fé pode assumir diferentes nuances, na dependência da formação e da visão existencial de cada pessoa. Abaixo, os principais pontos abordados:
Folha Espírita – O que é a neurobiologia da fé?
Ricardo Leme – Uma primeira observação a ser feita, que é de primordial
importância, é notarmos que os fenômenos neurobiológicos (relacionados ao
sistema nervoso e à vida) e os pertinentes à fé pertencem a diferentes
realidades. Enquanto os primeiros estão situados em uma realidade física
(fenomênica), os segundos pertencem a uma realidade que podemos chamar de
psíquica (numinosa). Devemos, portanto, ser cuidadosos em qualquer tentativa de
conciliação e de interpretação, quando fenômenos que ocorrem em diferentes
realidades se tornam objeto de estudo da ciência. Os métodos científicos
tradicionais ou da ciência acadêmica, buscam, no momento atual, fenômenos
reprodutíveis e quantificáveis, numa tentativa, muitas vezes reducionista, de
traduzir diferentes realidades a uma linguagem comum. Estudos neurobiológicos,
que envolvem o desvendar do funcionamento do sistema nervoso, representam parte
considerável da literatura científica nos dias atuais. O desenvolvimento
tecnológico permite cada vez mais que se decomponham, se quantifiquem e até
mesmo se identifiquem substâncias novas, o que é muito desejável. No entanto,
alguns seres humanos estão apenas começando a desconfiar que talvez o
desenvolvimento tecnológico esteja carecendo de algo, que pode ser o pequeno
detalhe que esteja faltando para um funcionamento mais harmonioso da humanidade
como um todo. O estudo da neurobiologia da fé talvez possa ser uma ferramenta a
mais na busca desse algo.
FE – Os estudos que vêm sendo feitos estão no caminho certo?
Leme – Para muitos, estudar a neurobiologia da fé consiste em mapear o encéfalo
quanto a áreas que estão ou não ativas durante uma experiência religiosa, a fim
de localizar a fé no corpo humano e, assim, explicá-la. Não podemos negar a
importância desses estudos. No entanto, propostas de novas formas de pensar são
altamente desejáveis, principalmente quando o objeto de estudo envolve a fé,
algo ainda tão pouco compreendido. Essa pouca compreensão envolve não apenas as
diferentes formas como as pessoas expressam a fé, mas também e, principalmente,
seus efeitos, que muitos presenciam e que às vezes preferem calar a arriscar
conhecer sua fonte geradora. Assumir a condição de não saber e se permitir estar
aberto para todas as possibilidades são as primeiras condições necessárias para
o interessado em aprender sobre qualquer assunto e, de maneira especial, esse,
que envolve estes dois grandes campos, que são a Neurobiologia e a fé. Ainda
hoje, se observarmos a literatura científica, é notável a distância que separa
pesquisas na área da Medicina daquelas realizadas nas disciplinas conhecidas
como básicas, como a Matemática, a Física e a Química, para exemplificar
algumas. Essa distância faz com que muitos dos modelos desenvolvidos em
pesquisas médicas, por exemplo, não levem em conta as descobertas mais recentes
no campo da Física. Em um primeiro momento isso pode parecer irrelevante, no
entanto, estudar nosso universo a partir de um modelo baseado na Física Clássica
ou de um baseado na Física Relativística Quântica pode nos levar a conclusões
antagônicas.
FE – Por que é importante pesquisar a fé?
Leme – Nos tempos atuais, apesar da enorme quantidade de informações que nos
chegam diariamente, é muito comum que as pessoas vivam com uma leve sensação de
que algo está faltando ou de incerteza. De maneira geral, as religiões se
propõem a preencher essas lacunas de forma a dar algum sentido ou significação
para essas vidas que buscam um sentido. Apesar das inúmeras propostas que tentam
explicar o processo da gênese do ser humano e da veemência com que algumas
pessoas afirmam ser portadoras da verdade, até o presente momento a resposta
para o significado existencial permanece velada. As pesquisas sobre a fé podem
contribuir muito para que as pessoas possam encontrar por si mesmas, e não por
terceiros, possíveis significados para suas existências. Estudos no campo da
Física Quântica sugerem que nossas escolhas, como produtos da consciência,
interferem de forma decisiva na maneira como a realidade física se manifesta. Um
místico chegando a essas conclusões não surpreenderia muitos de nós, mas um
físico, a partir de demonstrações baseadas em ferramentas da nossa própria
dimensão material, é algo maravilhoso.
FE – É como se a pessoa fosse uma peça de um grande quebra-cabeça?
Leme – Exatamente. E como tal, tivesse a oportunidade única de se posicionar
dentro do quebra-cabeça montado. No entanto, enquanto essa pessoa executa o que
esperam que ela faça, ela pode estar negligenciando o que ela realmente está
aqui para fazer. Algo que só ela pode saber, pois é a portadora dessa semente e
tem a responsabilidade de fazê-la germinar. Simplificando, em outras palavras: a
prática espiritual pode assumir um caráter exotérico (do grego tà exô – as
coisas exteriores) ou esotérico (tà esô – as coisas interiores). No primeiro
caso, a característica é a existência de alguma pessoa, objeto, ídolo, enfim,
algum símbolo fora do praticante para o qual se dirige a prática. No caso do
esoterismo, a prática é de dentro para fora, o templo é interno e o caminho é
solitário e, em alguns casos, pode até mesmo ser árduo. Tanto as práticas
exotéricas, que atingem grandes massas de pessoas, quanto as esotéricas, são
importantes e devemos evitar de ver uma como sendo superior ou melhor que a
outra. Muitas vezes, para a pessoa chegar à prática da espiritualidade em
essência (esoterismo), é necessário um primeiro contato com algum grupo
religioso (exoterismo), seja ele qual for. A importância de se pesquisar a fé é
máxima, uma vez que pode permitir que as pessoas entrem em contato com
realidades que ninguém mais além delas mesmas poderia fazê-lo.
FE – O conceito da fé pode ser visto de diferentes formas? Por quê?
Leme – Eu acredito que sim, pois cada pessoa é diferente da outra e, portanto,
existirão tantas formas diferentes de ver quanto o número de pessoas. A
linguagem verbal que dispomos para comunicação, sem que possamos perceber,
impõe-nos sérias limitações. Apesar de muitas vezes acreditarmos que estamos
falando e passando claramente uma idéia, o papel do receptor é fundamental, uma
vez que ele pode interpretar nossas palavras de acordo com os conceitos que tem
já estabelecidos. Existe um pensador russo chamado Ouspenski, que propõe uma
classificação do homem (ser humano) em sete tipos diferentes. Claro que toda
classificação pode ser limitante, mas elas ainda são necessárias até que cada um
de nós aprenda a pensar por si próprio. Para Ouspenski, a palavra homem não
admite variação ou gradação alguma entre aquele que não está consciente e nem
suspeita, entre o que luta para se tornar consciente e o que se tornou
plenamente consciente. A mesma palavra é usada para designar todos os tipos de
homens. Parece muito óbvio, portanto, que dependendo do nível consciencial de
cada pessoa, a fé vai ser vista, compreendida, trabalhada e exercitada de formas
diferentes.
FE – Que exames vêm sendo usados para o estudo desses fenômenos?
Leme – Vários estudos estão em desenvolvimento na tentativa de associar as
experiências religiosas a regiões específicas do encéfalo. Os exames mais
utilizados nessa metodologia são o eletroencefalograma (EEG), a tomografia por
emissão de fóton simples (SPECT), a tomografia por emissão de pósitrons (PET), a
ressonância magnética (RM) associada ou não ao PET e a RM funcional. Outra
importante área de estudo utiliza a dosagem de determinadas substâncias no
sangue de pessoas que passaram por experiências espirituais. Muitas dessas
substâncias são anticorpos, como, por exemplo, imunoglobulinas presentes na
saliva e interleucinas no sangue. Uma vez que está cada vez mais bem
caracterizado o funcionamento conjunto dos sistemas nervoso, endócrino e
imunológico, tem sido possível se observar o efeito da prática espiritual sobre
esses sistemas, a partir de vários modelos experimentais relacionados não apenas
a doenças, mas também ao processo de envelhecimento.
FE – Alguma metodologia específica? Por quê?
Leme – Cada estudo propõe metodologias específicas e essa é uma questão crucial
que muitas vezes nos passa despercebida quando tentamos interpretar esses
estudos. As metodologias são tão específicas, as condições de laboratório são
tão controladas, algumas variáveis são padronizadas a tal ponto, que esse mesmo
rigor acaba se voltando contra a própria proposta da ciência ou da pesquisa.
Isso ocorre, pois, a partir dos resultados obtidos em laboratório, sobre modelos
controlados, o próximo passo do cientista é, por meio de processos de indução e
de generalização, aplicar aqueles achados ao comportamento de sistemas abertos,
na população de seres humanos que vivem fora dos laboratórios. Muitas vezes, os
estudos científicos trazem resultados que oferecem dificuldade para serem
conciliados. Por exemplo, enquanto alguns pesquisadores propõem a associação da
experiência religiosa e da espiritualidade à ativação de circuitos neurais
específicos dos lobos temporais do cérebro, outros demonstram que a ativação
encefálica observada em determinadas experiências espirituais ocorre em todo o
cérebro indistintamente. Devemos ser muito cuidadosos ao interpretar descobertas
novas, pois muitas não resistem à prova do tempo.
Fonte: www.amebrasil.org.br
Dia 01 de 1880
Nasce na cidade de Sacramento, MG, Eurípedes Barsanulfo. Desencarna em 1º de
novembro de 1918.
Dia 01 de 1985
Divaldo Pereira Franco concede entrevista de 15 minutos à Rádio Paralelo 22, de
Johannesburg, África do Sul.
Dia 02 de 1827
Nasce em Tulle, França, Pierre-Gaëtan Leymarie. Desencarna em 10 de abril de
1901, em Paris.
Dia 02 de 1980
Em São Paulo, SP, desencarna Silvino Canuto de Abreu, jornalista, escritor,
conferencista e pesquisador espírita. Nascido em Taubaté, SP, em 19 de janeiro
de 1892.
Dia 02 de 1981
Divaldo Pereira Franco recebe o título de cidadão honorário de Uberlândia, MG.
Dia 02 de 1995
Divaldo Pereira Franco concede entrevista à TV C. 12 de Cochabamba, Bolívia.
Dia 03 de 1944
Nasce em Apucarana, PR, Milton Gonçalves, trabalhador espírita da região
noroeste do Estado. Foi Presidente da 8ª União Regional Espírita, sediada em
Paranavaí, onde desencarna em 2 de outubro de 1994.
Dia 03 de 1949
Em Liège, Bélgica, desencarna José Lhome, divulgador do Espiritismo, Presidente
da Federação Espírita da Bélgica. Nascido na mesma cidade, em 14 de junho de
1881.
Dia 04 de 1978
Em Teresópolis, RJ, o Grupo Espírita Isabel, a Redentora realiza a Primeira
Semana Espírita da cidade,... Saiba mais...