O Regresso de Simão Pedro, por Maria Dolores
Abstinência e Celibato
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Pergunta - O celibato voluntário representa um estado de perfeição meritório
aos olhos de Deus? Resposta - Não, e os que assim vivem, por egoísmo, desagradam
a Deus e enganam o mundo. Pergunta - Da parte de certas pessoas, o celibato não
será um sacrifício que fazem com o fim de se votarem, de modo mais completo, ao
serviço da Humanidade? Resposta - O caso é muito diferente. Eu disse: por
egoísmo. Todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para o bem. Quanto
maior o sacrifício, tanto maior o mérito. Itens ns 698 e 699, de "O Livro dos
Espíritos".
Abstinência, em matéria de sexo e celibato, na vida de relação pressupõe
experiências da criatura em duas faixas essenciais – a daqueles Espíritos que
escolhem semelhantes posições voluntariamente para burilamento ou serviço, no
curso de determinada reencarnação, daqueles outros que se vêem forçados a
adotá-las, por força de inibições diversas. Indubitavelmente, os que consigam
abster-se da comunhão afetiva, embora possuindo em ordem todos os recursos
instrumentais para se aterem ao conforto de uma existência a mais, com o fim de
se fazerem mais úteis ao próximo, decerto que traçam a si mesmos escaladas mais
rápidas aos cimos do aperfeiçoamento.
Agindo assim, por amor, doando o corpo a serviço dos semelhantes, e, por esse
modo, amparando os irmãos da Humanidade, através de variadas maneiras, convertem
a existência, sem ligações sexuais, em caminho de acesso à sublimação,
ambientando-se em climas diferentes de criatividade, porquanto a energia sexual
neles não estancou o próprio fluxo; essa energia simplesmente se canaliza para
outros objetivos - os de natureza espiritual. E, em concomitância com os que
elegem conscientemente esse tipo de experiência, impondo-se duros regimes de
vivência pessoal, encontramos aqueles outros, os que já renasceram no corpo
físico induzidos ou obrigados à abstinência sexual, atendendo a inibições
irreversíveis ou a processos de inversão pelos quais sanam erros do pretérito ou
se recolhem a pesadas disciplinas que lhes facilitem a desincumbência de
compromissos determinados, em assuntos do espírito. Num e noutro caso,
identificamos aqueles que se fazem chamar, segundo os ensinamentos evangélicos,
como sendo "eunucos por amor do Reino de Deus". Esses eunucos, porém, muito ao
contrário do que geralmente se afirma, não são criaturas psicologicamente
assexuadas, respirando em climas de negação da vida. Conquanto abstêmios da
emotividade sexual, voluntária ou involuntariamente, são almas vibrantes,
inflamadas de sonhos e desejos, que se omitem, tanto quanto lhes é possível, no
terreno das comunhões afetivas, para satisfazerem as obrigações de ordem
espiritual a que se impõem. Depreende-se daí a impossibilidade de se doarem a
quaisquer tarefas de reparação ou elevação sem tentações, sofrimentos, angústias
e lágrima; e, às vezes, até mesmo escorregões e quedas, nos domínios do
sentimento, de vez que os impulsos do amor nelas se mantêm com imensa agudeza,
predispondo-as à sede incessante de compreensão e de afeto. Entendendo-se os
valores da alma por alimento do espírito, impossível esquecer que a produção do
bem e do aprimoramento se realiza à base de atrito e desgaste. A semente é
segregada no solo para desvencilhar-se dos empeços que a constringem, de modo a
formar o pão, e o pão, a rigor, não se completa em forno frio.
A força no carro não surge sem a queima de combustível, e o motor não lhe
garante movimento sem aquecer-se em nível adequado. Abstinência e celibato, seja
por decisão súbita do homem ou da mulher, interessados em educação dos próprios
impulsos, no curso da reencarnação, ou seja por deliberação assumida, antes do
renascimento na esfera física, em obediência a fins específicos, não contam
indiferença e nem anestesia do sentimento. Celibato e abstinência, em qualquer
forma de expressão, constituem tentames louváveis do ser experiências de caráter
transitório -, nos quais a fome de alimento afetivo se lhes transforma no imo do
coração em fogo purificador, acrisolandolhes as tendências ou transfigurando
essas mesmas tendências em clima de produção do bem comum, através do qual, pela
doação de uma vida, se efetua o apoio espiritual ou a iluminação de inúmeras
outras. Tais considerações nos impelem a concluir que a vida sexual de cada
criatura é terreno sagrado para ela própria, e que, por isso mesmo, abstenção,
ligação afetiva, constituição de família, vida celibatária, divórcio e outras
ocorrências, no campo do amor, são problemas pertinentes à responsabilidade de
cada um, erigindo-se, por essa razão, em assuntos, não de corpo para corpo, mas
de coração para coração.
Por: Emmanuel, Do livro: Vida e Sexo, Médium: Francisco Cândido Xavier
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