Apreciando Satélites, por Irmão X
Falar ou Não Falar
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Eis uma questão muito delicada. Como agir diante de
circunstâncias, fatos, posturas que denotem conduta inadequada? Quando devemos e
como fazermos para chamar a atenção de alguém por comportamentos que comprometem
a segurança e paz de outras criaturas, por exemplo? Ou, de alguém que se rebela
diante dos critérios de funcionamento de uma reunião ou instituição?
Há que se considerar que cada caso é um caso por si só. Há agravantes,
atenuantes, características próprias e peculiaridades a cada situação que nunca
permitem estabelecer-se uma receita pronta que resolva todas as ocorrências. Por
isso recorramos à Doutrina Espírita.
O capítulo X de O Evangelho Segundo o Espiritismo traz importante contribuição
ao estudo do tema. Kardec o intitulou Bem Aventurados Aqueles que são
Misericordiosos, inserindo instruções dos espíritos sobre o perdão, a
indulgência, reconciliação com os adversários e suas próprias análises,
inclusive também sobre o ensino de Jesus do Não Julgueis.
Para análise e reflexão geral, porém, transcrevemos abaixo as instruções do
Espírito São Luiz pertinentes à delicada questão e constantes do final do
referido capítulo (os grifos são nossos):
“(...) É permitido repreender os outros, notar as imperfeições de outrem,
divulgar o mal de outrem?
19. Ninguém sendo perfeito, seguir-se-á que ninguém tem o direito de repreender
o seu próximo? Certamente que não é essa a conclusão a tirar-se, porquanto cada
um de vós deve trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo, daqueles cuja
tutela vos foi confiada. Mas, por isso mesmo, deveis fazê-lo com moderação, para
um fim útil, e não, como as mais das vezes, pelo prazer de denegrir. Neste
último caso, a repreensão é uma maldade; no primeiro, é um dever que a caridade
manda seja cumprido com todo o cuidado possível. Ao demais, a censura que alguém
faça a outrem deve ao mesmo tempo dirigi-la a si próprio, procurando saber se
não a terá merecido. — S. Luís. (Paris, 1860.)
20. Será repreensível notarem-se as imperfeições dos outros, quando daí nenhum
proveito possa resultar para eles, uma vez que não sejam divulgadas? Tudo
depende da intenção. Decerto, a ninguém é defeso ver o mal, quando ele existe.
Fora mesmo inconveniente ver em toda a parte só o bem. Semelhante ilusão
prejudicaria o progresso. O erro está no fazer-se que a observação redunde em
detrimento do próximo, desacreditando-o, sem necessidade, na opinião geral.
Igualmente repreensível seria fazê-lo alguém apenas para dar expansão a um
sentimento de malevolência e à satisfação de apanhar os outros em falta. Dá-se
inteiramente o contrário quando, estendendo sobre o mal um véu, para que o
público não o veja, aquele que note os defeitos do próximo o faça em seu
proveito pessoal, isto é, para se exercitar em evitar o que reprova nos outros.
Essa observação, em suma, não é proveitosa ao moralista? Como pintaria ele os
defeitos humanos, se não estudasse os modelos? — S. Luís. (Paris, 1860.)
21. Haverá casos em que convenha se desvende o mal de outrem? É muito delicada
esta questão e, para resolvê-la, necessário se torna apelar para a caridade bem
compreendida.
Se as imperfeições de uma pessoa só a ela prejudicam, nenhuma utilidade haverá
nunca em divulgá-la. Se, porém, podem acarretar prejuízo a terceiros, deve-se
atender de preferência ao interesse do maior número. Segundo as circunstâncias,
desmascarar a hipocrisia e a mentira pode constituir um dever, pois mais vale
caia um homem, do que virem muitos a ser suas vítimas. Em tal caso, deve-se
pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes. — São Luís. (Paris, 1860.)”.
Eis o grande desafio: perceber realmente essa observação final da instrução
superior. Daí a própria instrução acima transcrita destacar: É muito delicada
esta questão e, para resolvê-la, necessário se torna apelar para a caridade bem
compreendida. A caridade bem compreendida engloba, conforme a entendia Jesus o
perdão das ofensas, a benevolência para com todos e a indulgência para com as
faltas alheias, conforme ensino da questão 886 de O Livro dos Espíritos, onde
Kardec acrescenta como comentário pessoal: “(...) amar ao próximo é fazer-lhe
todo o bem que está ao nosso alcance e que gostaríamos nos fosse feito a nós
mesmos. (...)”.
Por outro lado, o tema também é abordado na questão 903 de O Livro dos
Espíritos:
“903. Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios? Incorrerá em
grande culpa, se o fizer para os criticar e divulgar, porque será faltar com a
caridade. Se o fizer, para tirar daí proveito, para evitá-los, tal estudo poderá
ser-lhe de alguma utilidade. Importa, porém, não esquecer que a indulgência para
com os defeitos de outrem é uma das virtudes contidas na caridade. Antes de
censurardes as imperfeições dos outros, vede se de vós não poderão dizer o
mesmo. Tratai, pois, de possuir as qualidades opostas aos defeitos que criticais
no vosso semelhante. Esse o meio de vos tornardes superiores a ele. Se lhe
censurais o ser avaro, sede generosos; se o ser orgulhoso, sede humildes e
modestos; se o ser áspero, sede brandos; se o proceder com pequenez, sede
grandes em todas as vossas ações. Numa palavra, fazei por maneira que se não vos
possam aplicar estas palavras de Jesus: Vê o argueiro no olho do seu vizinho e
não vê a trave no seu próprio.”
Portanto, haverá casos e casos, mas sempre a caridade deverá pautar nossas
ações, ainda que para advertir, afastar ou orientar alguém. Muitas vezes nos
depararemos com pessoas e situações que trarão prejuízos a muitos e o dever da
caridade impõe nossa ação de Falar ao invés de Não falar. Porém, sem interferir
no livre arbítrio das criaturas. E, ao mesmo tempo, usando da indulgência, como
ensinam os Bons Espíritos. Eis o desafio a nos ensinar...
Nota: A presente matéria é resultado de pesquisa e indicação de Américo Sucena e
elaboração textual de Orson Peter Carrara.
Por: Orson Carrara, Texto enviado pelo próprio autor para publicação em nosso site
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