
Tela do Mundo, por Maria Dolores
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Você certamente já leu ou ouviu, algum dia, a notícia de
roubo, incêndio, naufrágio ou explosão de algum bem móvel ou imóvel que
pertencia a alguém, não é mesmo?
No entanto, ninguém jamais ouviu ou leu uma manchete com os dizeres:
"Foi roubada a coragem desta ou daquela pessoa", "foi extraviada grande porção
de otimismo, quem a encontrar favor devolver no endereço citado".
Ou então,
"Incêndio consumiu toda a fidelidade de fulano" ou, "naufragou a honestidade de
beltrano"
Enfim, nunca se ouve falar que as virtudes de alguém tenham sofrido assaltos ou
outro dano qualquer.
Todavia, alguns podem argumentar que isso acontece diariamente quando as
negociatas indignas põem por terra a honestidade e a honradez deste ou daquele
cidadão, que sucumbe ante grandes quantias em dinheiro ou favorecimentos de toda
ordem.
No entanto, as virtudes que se deixam arrastar por interesses próprios, não são
virtudes efetivas, são ensaios de virtudes.
Quem, verdadeiramente, conquista uma virtude, jamais a perde.
Contou-nos um amigo, jovem advogado, que labora num órgão público que, em certa
ocasião, estava com uma pilha de processos sobre a mesa, quando seu superior
entrou na sala e tomou dois daqueles processos e pôs de lado, dizendo-lhe:
"Quero que você arquive estes processos."
O advogado perguntou por que razão deveria arquivá-los, e o diretor respondeu
simplesmente:
"Porque os acusados são meus amigos e me pediram esse favor".
O moço que, por sua vez, tinha um compromisso sério com a própria consciência,
que é onde estão inscritas as leis divinas, fez com que os processos seguissem
seu curso, sem interferir.
Tempos depois, os amigos do diretor tiveram que arcar com as custas do processo
e indenizar vários cidadãos, aos quais haviam prejudicado de alguma forma.
E, quando o diretor foi tirar satisfação com o advogado, este argumentou que o
fato de os acusados serem seus amigos, não era suficiente para isentá-los da
responsabilidade dos seus atos. E que somente a falta de provas poderia
livrá-los, o que não era o caso.
Se esse jovem advogado não tivesse firmeza de caráter, poderia ter dado ocasião
a que fosse registrado em sua ficha espiritual a seguinte anotação:
Este espírito sofreu, em tal data, um assalto da corrupção e da prepotência e
teve seus bens mais preciosos, que são a fidelidade e a honestidade, roubados.
Mas, felizmente, isso não aconteceu.
Pense nisso!
Toda vez que permitimos que nossas virtudes sejam compradas ou roubadas, ficamos
mais pobres espiritualmente.
Toda vez que aplaudimos a corrupção e a ganância, tirando proveito de cargos,
posições sociais, ou de situações diversas em benefício próprio e em detrimento
de outrem, estamos nos candidatando a entrar no mundo espiritual como mendigos
morais.
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