Perante e Enfermidade, por André Luiz
Kardec e a Firmeza de Propósitos
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Sem, pois, me deixar influenciar seja pelas idéias de uns,
seja pelas de outros, sigo a rota que eu mesmo tracei: tenho um objetivo,
vejo-o, sei como e quando o atingirei e não me inquietam os clamores dos que
passam por mim.
Crede, Senhores, as pedras não faltam em meu caminho! Passo por cima delas,
mesmo das mais altas e pesadas. Se conhecesse a verdadeira causa de certas
antipatias e de certos afastamentos, muitas surpresas nos aguardariam!
É ainda preciso, entretanto, mencionar as pessoas que são postas, relativamente
a mim, em posições falsas, ridículas e comprometedoras e que procuram se
justificar, em última instância, recorrendo a pequenas calúnias: os que
esperavam seduzir-me pelos elogios, crendo levar-me a servir aos seus desígnios
e que reconheceram a inutilidade de suas manobras para atrair minha atenção;
aqueles que não elogiei nem incensei e que isso esperavam de mim; aqueles,
enfim, que não me perdoam por ter adivinhado suas intenções e que são como a
serpente sobre a qual se pisa.
Se todas essas pessoas decidissem se colocar, por um instante sequer, em uma
posição extraterrena e ver as coisas um pouco mais do alto, compreenderiam bem a
puerilidade de quanto as preocupa e não se espantariam com a pouca importância
que a tudo isso dão os verdadeiros espíritas. É que o Espiritismo abre
horizontes tão vastos, que a vida corporal, curta e efêmera, se apaga com todas
as suas vaidades e suas pequenas intrigas, ante o infinito da vida espiritual.
Não devo, entretanto, omitir uma censura que me foi endereçada: a de nada fazer
para trazer de novo a mim as pessoas que se afastam. Isso é verdadeiro e a
reprovação fundamentada. Eu a mereço, pois jamais dei um único passo nesse
sentido e aqui estão os motivos de minha indiferença.
Aqueles que de mim se aproximam, fazem-no porque isto lhes convém; é menos por
minha pessoa do que pela simpatia que lhes desperta os princípios que professo.
Os que se afastam fazem-no porque não lhes convenho ou porque nossa maneira de
ver as coisas reciprocamente não concorda. Por que, então, iria eu
contrariá-los, impondo-me a eles? Parece-me mais conveniente deixá-los em paz.
Ademais, honestamente, carece-me tempo para isso.
Sabe-se que minhas ocupações não me deixam um instante para o repouso. Além
disso, para um que parte, há mil que chegam. Julgo um dever dedicar-me, acima de
tudo, a estes e é isso que faço. Orgulho?
Desprezo por outrem? Oh! Não! Honestamente, não! Eu não desprezo ninguém;
lamento os que agem mal, rogo a Deus e aos Bons Espíritos que façam nascer neles
melhores sentimentos. E isso é tudo. Se retornam, são sempre recebidos com
júbilo. Mas correr ao seu encalço, isso não me é possível fazer, mesmo em razão
do tempo que de mim reclamam as pessoas de boa vontade, e, depois, porque não
empresto a certos indivíduos a importância que eles a si próprios atribuem.
Para mim, um homem é um homem, isto apenas! Meço seu valor por seus atos, por
seus sentimentos, nunca por sua posição social. Pertença ele às mais altas
camadas da sociedade, se age mal, se é egoísta e negligente de sua dignidade, é,
a meus olhos, inferior ao trabalhador que procede corretamente, e eu aperto mais
cordialmente a mão de um homem humilde, cujo coração estou a ouvir, do que a de
um potentado cujo peito emudeceu. A primeira me aquece, a segunda me enregela.
Homens da mais alta posição honram-me com sua visita, porém nunca, por causa
deles, um proletário ficou na antecâmara. Muitas vezes, em meu salão, o príncipe
se assenta ao lado do operário. Se se sentir humilhado, dir-lhe-ei simplesmente
que não é digno de ser espírita. Mas, sinto-me feliz em dizer, eu os vi, muitas
vezes, apertarem-se as mãos, fraternalmente, e, então, um pensamento me ocorria:
“Espiritismo, eis um dos teus milagres; este é o prenúncio de muitos outros
prodígios!”
Dependeria de mim abrir as portas da alta sociedade, porém nunca fui nelas
bater. Isso exigiria um tempo que prefiro empregar mais utilmente. Coloco em
primeira instância o consolo que é preciso oferecer aos que sofrem, erguer a
coragem dos caídos, arrancar um homem de suas paixões, do desespero, do
suicídio, detê-lo talvez no limiar do crime! Não vale mais isto do que os
lambris doirados?
Guardo milhares de cartas que para mim mais valem do que todas as honrarias da
Terra e que olho como verdadeiros títulos de nobreza. Assim, pois, não vos
espanteis se deixo partir aqueles que me dão as costas.
Allan Kardec Viagem Espírita em 1862 O Clarim, 2. ed., pp. 58-62.
Por: Allan Kardec, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.
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