Educar para a Cooperação, por Orson Carrara
Instituição espírita fundada por Vinicius está completando 116 anos
Natural de Piracicaba, onde reside, no interior paulista, Marina Gevartosky
Torrezan é graduada em Terapia Ocupacional, exercendo a profissão.
Aposentada do serviço público em sua formação, é psicanalista em formação. Ocupa
a vice-presidência do Grupo Espírita Fora da Caridade Não Há Salvação, na mesma
cidade. Gentilmente atendeu nosso convite para referir-se à instituição, uma das
mais antigas do estado (fundada em 25 de março de 1906) e que teve entre seus
fundadores o notável Pedro de Camargo, mais conhecido por Vinicius.
Conte-nos compactamente sua história com o Espiritismo.
Quando eu ainda tinha um mês de idade, minha mãe apresentou o que na época era
chamado de “esgotamento nervoso” e não conseguia resultado com o tratamento
médico. Após tentativas e decepções, um dia sentiu forte desejo de entrar em um
Centro Espírita, em frente do qual ela passava com frequência. E naquele dia lhe
foi dito que estava envolvida pela presença de um tio falecido e que este pedia
que fosse rezada uma missa em seu nome. No dia seguinte o pedido foi realizado e
daí em diante minha mãe melhorou e tornou-se uma fervorosa espírita. Cresci
então dentro do Espiritismo desde o berço. Participávamos meus irmãos e eu da
evangelização infantil e depois da antiga mocidade espírita. Gostávamos muito
dos encontros da COMECELESP, onde naqueles tempos Divaldo Franco, ainda muito
jovem sentava-se conosco passando seu conhecimento. Após concluir minha
graduação fui a Brasília, ainda com 21 anos de idade, para especialização e pude
ter a honra de evangelizar na FEB dos anos 1980, juntamente com o atual
vice-presidente Geraldo Campetti, à época jovem como eu. Hoje posso dizer que a
vida teria sido outra para mim se não fosse o conhecimento libertador da
Doutrina Espírita!
Quando e como chegou ao “Fora da Caridade Não Há Salvação”?
Após o matrimônio, meu marido e eu fomos morar por 6 anos na Itália e ao
retornarmos a Piracicaba, no final do ano de 1995, com 3 filhos pequenos,
tivemos que fazer ajustes para podermos participar das tarefas espíritas. Foi
assim que escolhi o FCNHS, por oferecer horários de atividades que permitiam que
nós nos revezássemos nos cuidados com as crianças, e de lá nunca mais me
afastei. Na infância, porém, frequentamos a União Espírita de Piracicaba, que
nos fala também muito forte ao coração.
O Grupo Espírita Fora da Caridade Não Há Salvação é a instituição pioneira na
cidade? Quando e por quem foi fundada?
Sim, é uma instituição centenária e pioneira na cidade. Foi fundada em 25/3/1906
por João Leão Pitta, um português da Ilha da Madeira, que veio habitar em
Piracicaba após passagem pelo Rio de Janeiro, onde conheceu a Doutrina Espírita.
Juntamente com alguns amigos que se reuniam em casas de família atraídos pelo
crescente interesse em “conversar com familiares mortos”, uma mensagem foi
recebida na qual foi sugerida a fundação de uma instituição que abrigasse os
grupos da cidade e onde pudessem realizar suas atividades. Dentre esses amigos
destacamos dona Eugênia da Silva, conhecida como a mãe da pobreza na cidade, e o
nosso querido Pedro de Camargo – “Vinicius”, como ficou mais conhecido em todo
meio espírita.
Numa instituição que já ultrapassou um século, o que mais se destaca a seu ver?
Muito da história da Casa nos mostra que mesmo com as dificuldades de toda
ordem, após termos tido tão ilustres fundadores, é possível, entre altos e
baixos, enfrentarmos nossas limitações e seguirmos adiante. É para isso que aqui
reencarnamos. Humildade para com as nossas imperfeições e boa vontade para
aprender. O exemplo nos foi dado!
Tendo sido fundada numa época de preconceitos bem acentuados contra o
Espiritismo, há registros de perseguições e tentativas agressivas contra seu
funcionamento?
Sim, sem dúvida. Temos porém um fato curioso digno de ser lembrado, que assim se
passou: Ao final da preleção da noite e após a sessão de passes, levantou-se da
plateia um senhor jovem que pretendia falar ao orador da noite, se identificando
como o Delegado de Polícia da cidade e dizendo que tinha vindo para conhecer,
pois ouvira dizer que as coisas aqui eram “complicadas”, mas que ele, porém, não
viu nada disso e concluiu dizendo que desejava que eles se dessem bem! Curioso
notar que as pessoas nem sabiam de fato o que ocorria dentro da Casa Espírita e
nem tinham termos para se referirem ao que discordavam.
De seu tempo de vinculação à instituição, o que mais lhe chamou a atenção?
O que mais me chamou a atenção, sem dúvida, foi o cuidado com a preservação da
unidade doutrinária. A importância dada ao estudo também e à educação
infantojuvenil, lembra-nos Vinicius... Como ele valorizava a educação! Temos
conhecimento e documento fotográfico de que ao tempo de Vinicius a evangelização
infantojuvenil contava com 80 crianças assíduas. Uma maravilha em tempos de
perseguição...
De sua vivência espírita, o que mais lhe toca o coração?
O sentimento de que os que desconhecem a justiça divina, como é apresentada pela
Doutrina Espírita, e seguem vivendo em meio às chamadas “injustiças”, não têm o
consolo que temos a felicidade de ter! O conhecimento das Leis Naturais, com seu
norteamento precioso para as nossas vidas, é uma bênção de que ainda não temos
noção exata do seu valor.
O fato histórico do grande Vinicius estar entre seus fundadores, o que isso
significa para o atual grupo de diretores e frequentadores?
É motivo de grande honra e procuramos sempre trazê-lo à lembrança, estudar suas
obras e contar sua história.
Estando entre as primeiras instituições fundadas no estado, registrando em sua
história a passagem de personagens marcantes por sua sede e atividades, você
considera que isso significou fortalecimento e diretriz doutrinária para as
décadas que se sucederam?
Certamente, e foi resgatando a memória, não deixando que se perdesse o exemplo,
que temos conseguido manter a diretriz doutrinária tão importante para que nossa
amada doutrina não se desvie do seu objetivo.
Algo mais a acrescentar?
Queremos reforçar a importância do resgate da memória dos esforços realizados
por aqueles que nos antecederam. Com referências chegaremos com mais segurança e
menos sofrimento ao objetivo que é o nosso aperfeiçoamento!
Suas palavras finais.
Agradeço a você, Orson, esta oportunidade de dar minha pequena contribuição.
Quero também dizer da minha felicidade por estar trazendo minha vivência dentro
desta doutrina que por natureza é consoladora e me ajuda todos os dias a vencer
minhas imperfeições. E para que mais pessoas possam dizer o mesmo é que temos
trabalhado!
Autor: Marina Gevartosky Torrezan
Todo esse material provém dos sites: CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo e da Revista Eletrônica O Consolador.
A+ | A-