Bem-aventurados
O Espírito renasce na Terra impulsionado por nova esperança, decidido a
enfrentar as provas que escolheu no campo do aprendizado.
Passa o tempo.
Perlustra a fase infantil e, por vezes, atravessa a juventude, evidenciando a
melhor disposição íntima, para atingir, surpreso, o limiar da maturidade humana.
Começam a surgir os problemas e lutas maiores.
Repontam as primeiras decepções.
Desvelam-se os reencontros mais graves.
Rearticulam-se compromissos amargos.
Enigmas do pretérito, recente ou remoto, aparecem de improviso.
Esboçam-se tentações constringentes e identifica em si mesmo as mostras
iniciantes dos desajustes morais.
Credores impassíveis de outro tempo, domiciliados na Espiritualidade inferior,
descobrem-os envergando a roupagem carnal diferente e insuflam-lhe aviltantes
ideias fixas, ligadas aos pontos vulneráveis que lhe assinalam a personalidade,
quase sempre distante da obrigação de orar e vigiar, perdoar e servir em
proveito próprio.
Nascem daí as primeiras frases de pessimismo, os primeiros ares de tristeza, os
primeiros traços de melancolia, os primeiros sintomas de frustração.
Em semelhante trecho do embate pelo necessário aperfeiçoamento, os seres humanos
passam à tensão constante e imanifesta do corpo espiritual ansiando recuperar a
paz que consideram perdida.
Aqueles que se apoiam no Cristo, orando, resignando-se e estabelecendo contactos
intuitivos, através do perdão e da humildade, da beneficência e do serviço,
logram restaurar-se mais facilmente, arrimados à compreensão e à fé viva que
lhes garantem serenidade e paciência.
Contudo, aqueles outros que se ausentam da realidade moral assumem fugas
psicológicas •— válvulas falsas para quebrar a pressão interior •— e
entregam-se, imoderadamente, ao álcool, aos tóxicos, aos jogos de azar ou às
aventuras infelizes da sensibilidade, no domínio das paixões terra-a--terra, que
se fazem acompanhar de cativeiros e angústias.
Gradativamente entram na condição de escravos dos próprios desregramentos, e
tornam-se tiranos dos outros.
É aí que se desencadeia o colapso de todas as resistências da alma, que se
entrega então, em dolorosos processos obsessivos, à recapitulação de todos os
erros do passado para, de novo, mergulhar em pesadelos sinistros além da morte.
Espíritas, irmãos! Permanecei em guarda contra vós mesmos!
A Doutrina Bendita que nos tutela os votos de melhoria surgiu nos caminhos do
mundo para anular os rebates-falsos do materialismo, instilando-nos fortaleza e
resolução para vencermos nossas tendências menos felizes.
Seguir o Espiritismo é refazer o destino!
Já conseguis estudar os mecanismos da Justiça Maior; interpretais, no tempo e no
espaço, as causas profundas das aflições; tendes por bênção incontestável o
provisório esquecimento das existências anteriores; entendeis sem dificuldade o
imperativo da justa resignação; aceitais a função admirável do Educandário
Terrestre e reconheceis, igualmente, no cárcere de carne, a abençoada carteira
escolar em que recolhemos lições e valores para a nossa definitiva
emancipação... Em razão disso, sois, na Terra, aqueles companheiros da
Eternidade mais capacitados para sentir e receber as inefáveis alegrias
prometidas pelo Senhor, quando socorreu, no tope da cruz, a multidão
desesperançada:
— «Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados.»
— «Bem-aventurados os famintos e sequiosos de justiça, pois que serão saciados.»
Bezerra de Menezes