Exigência Inditosa

Realizara o serviço com dedicação e aguardava o pagamento.

Aqueles eram dias difíceis para todos.

Circunstâncias imprevistas agravaram os problemas do cliente, que se viu constrangido a confessar a impossibilidade de resgatar o débito.

Explicou, pediu prazo, prometeu recuperar-se da situação difícil...

O credor, no entanto, deixando-se intoxicar pela revolta e supondo-se injustamente ludibriado, fez-se enérgico, lamentou não poder adiar a regularização do débito.

Exigiu a remuneração pelo trabalho, impôs-se, ameaçou apresentar queixa à polícia...

No ardor da discussão, que surgiu, inevitável, o paciente asseverou que, de valor, possuía, apenas, um revólver de alto preço, que colocava como veículo de pagamento.

O indignado facultativo aceitou a arma como penhor, até que a dívida fosse liberada.

Levou-a para casa e guardou-a carregada, sem, ao menos, havê-la examinado.

Menos de um mês depois, seu filhinho de sete anos encontrou-a e, fascinado pelo estranho objeto, pôs-se a brincar, inocente.

Como fosse surpreendido pela genitora, assustou­-se, a arma caiu-lhe das mãos, disparou, acertando-lhe o jovem coração e roubando-lhe a vida...

Com a severidade com que se exige, padece-se da severidade das circunstâncias.

A tragédia tem início quando alguém se transforma em verdugo do próximo, atraindo para si as malévolas conjunturas que cria.

Não te permitas os arranjos que podem conduzir às dores irreparáveis.

Cultiva a tolerância e esta te dará paz.


Ignotus