De Passagem

Irmão,
Enquanto gemes,
Cresce a erva para curar-te as dores,
E enquanto dormes
A pedra te sustenta a habitação.

Enquanto te desfazes em revolta,
O verme permanece trabalhando,
Submisso ao Senhor,
No preparo do chão para que a vida não cesse.

Enquanto te confias
A impropérios da queixa,
Dispõe-se a gota dágua
A socorrer-te a sede.

Enquanto te enveredas
No labirinto imenso
Da palavra insincera ou do tempo perdido,
O minúsculo grão
Desenvolve-se, humilde,
Para atender-te a fome e ajudar-te o celeiro.
Ao redor de teus passos.
Tudo clama – “que fazes?”

Entretanto,
Guardas ouvidos surdos
E as tuas mão inertes
Rogam, em vão, o amparo
Que deviam por si mesmas,
Enriquecendo o bem para a luz imortal.

Abre o teu coração
À glória da verdade e à fonte do amor
Que dimanam sem termo
Do Coração da Vida.
Para que o Sol Divino
Encontre no teu peito
O instrumento ideal de manifestação,
Porque a bênçãos do corpo
É qual a flor da erva,
Hoje brilhando ao céu, amanhã, semimorta...

E o Pai Justo e Bondoso
Que rege o grão de pó e as estrelas suspensas
Vela, agindo conosco,
Dentro e fora de nós,
Perguntando a nós todos,
Em cessando o minuto:
- “Meu filho, que fizestes?”


Rodrigues de Abreu