O Reino

Sob este título o inesquecível Professor José Herculano Pires, que como jornalista utilizava-se do pseudônimo Irmão Saulo, apresentou-nos, nos idos de 1967, uma jóia em forma de livro, de valor inestimável. Mais parece um livro de bolso, figurando entre as mais de oitenta obras que publicou, tanto na área de Filosofia, onde era Mestre, formado pela USP, premiado pelo trabalho filosófico “O Ser e a Serenidade”, quanto na extensa área doutrinária espírita onde foi considerado o Apóstolo de Kardec, graças à sua integridade e intransigente defesa dos princípios espirituais descobertos por Kardec. Quem ler o referido livro e, mais do que isto, refletir sobre ele e tentar, pelo menos tentar, por em prática seus conceitos, sem dúvida sentir-se-á melhor pois terá acendido uma pequena luz dentro de sua alma, onde poderá expandir-se. Apenas para dar uma pálida idéia, transcrevo abaixo trecho da sua introdução que está logo à página 13, com o título de Aviso ao Leitor: “Aquele que se engana a si mesmo não consegue passar pela porta do Reino.O que não joga na estrada os fardos do egoísmo não pode entrar com eles no Reino… O Reino é uma graça e uma conquista. Porque a graça não é uma prebenda como as da Terra: temos de merecê-la para recebê-la. E como receber a graça sem a conquista das condições exigidas para a merecermos? Vivem na ilusão os que se esquecem daquelas palavras: Busca primeiro o Reino de Deus e a sua justiça… Porque pensam que o Reino é dado a troco de palavras, de crenças, de sacramentos, de símbolos e de sinais exteriores. E se enganam a si mesmos…”. E por aí vai, serenando nossos corações, emocionando nossas almas, fazendo-nos pensar em o que é realmente o Reino, do qual tanto falamos mas que temos que aprender a sentir. Tem sido, há muito tempo, um dos meus livros de cabeceira, este pequenino mas grandioso livro deste inesquecível professor. Quando revejo sua filha, a também professora Heloisa Pires, parece-me que o reencontro, tal a afinidade entre ambos, pai e filha. Nossos “papos” vão longe, e parece-me que novamente estou lá naquelas tertúlias gostosas que costumava freqüentar às quintas-feiras a noite, durante o meu período universitário, ali na Rua São Bento, na capital, no Clube dos Jornalistas Espíritas, onde o professor dava suas aulas tão esperadas. Bons tempos aqueles. Ali, por sinal, aconteceu-me algo que mudou completamente minha vida, pois foi ali, numa daquelas reuniões, que conheci, primeiramente aquela que seria futuramente minha sogra e, na semana seguinte, aquela que seria minha futura esposa, a Rute Maria. Interessante anotar, como depois Rute me contou, que, ao chegar em sua casa, após me conhecer no Clube, sua mãe, médium que sempre foi, lhe disse: conheci hoje seu futuro marido! E realmente, desde que conheci Rute, o que se deu logo na semana seguinte, enxerguei nela a companheira que sempre ansiara encontrar. Quando contei ao Professor Herculano, dele, só filosofou comigo: é Ciro, é o destino. Nunca me esquecerei das palavras dele, que se tornou, a meu convite, padrinho espiritual de nosso enlace matrimonial, acontecido aqui em Itu, em 68.
Herculano era de uma inteligência ímpar. Costumo dizer aqui em casa, meus familiares sabem disso, ser ele a pessoa mais sábia que conheci. Adentrava com grande facilidade todo o vasto campo da cultura geral. A Filosofia, as Escrituras, principalmente os Evangelhos, o Espiritismo e a Parapsicologia eram suas áreas preferidas, onde revelava todo o seu saber, naturalmente adquirido nas muitas existências dedicadas aos estudos. Por sinal por várias vezes debateu com o Padre Quevedo na T.V., demonstrando claramente as falsidades e subterfúgios de que este senhor utiliza-se para distorcer a Parapsicologia, com o firme propósito de combater o Espiritismo. O conhecimento do professor era fantástico e também sua calma para tolerar as leviandades de seu opositor, que até hoje continua enganando platéias que não conhecem a verdade dos fatos e que deixam-se levar pela sua inteligência usada ardilosamente e seus truques de mágica. Só o sensacionalismo, que a T.V. Globo precisa para ter Ibope, para agüentá-lo e pagá-lo bem, como fez recentemente.
Por isso precisamos entender o que é realmente O Reino para não utilizarmos mal nossa inteligência ou os recursos materiais, quando os possuímos. Daí dizer o Irmão Saulo em seu livro: “O Reino é rico, mas a riqueza do Reino é impessoal. O que faz a pobreza é a riqueza pessoal. Há um caruncho da alma: o egoísmo. Esse caruncho destrói a maior riqueza do Universo, que é o Espírito, quando o homem se julga dono pessoal dos frutos da Terra… Só podemos atingir o Reino através de nós mesmos. Porque nós somos o Mundo, nós somos a Humanidade… se formos capazes de compreender que devemos melhorar para que o mundo melhore, que devemos mudar o nosso regime de vida para que o regime social mude, então estaremos lutando pelo Reino. O Jovem Carpinteiro nos deu o exemplo.”
Procuremos segui-lo!


Ciro F. Amantéa - Rie