Sobre um Suspiro

Lemos sobre um suspiro medieval. A pequena nota na grande Imprensa dizia que grande líder espiritualista, saudoso do amplo domínio com que trazia em cativeiro grande parte do nosso mundo civilizado, deitando um olhar sobre o panorama atual de nossa Humanidade, suspirou profundamente e anunciou:

- O progresso não conduz a parte alguma.

Essa afirmação ressuma miopia espiritual.

O progresso material, embora possa gerar atitudes conflitantes com as Leis Espirituais - conflitantes porque se toma a parte pelo todo, - promove a libertação da criatura, pelo amadurecimento do seu senso-moral.

São os últimos elos da senzala que se rompem.

De submissa a dogmas e preceitos seculares, a criatura sacode-se a si mesma, despertando da hibernação em que se amodorrava, alcançando novas condições para abarcar com mais largueza os fenômenos da própria Vida Eterna.

Acordamos que o avanço técnico não cria felicidade.

Coloca, porém, o homem a caminho desse extraordinário encontro com seu mundo íntimo, a fim de torná-lo senhor de qualidades espirituais dormentes.

Sem a conquista do meio, o homem não se voltaria para dentro de si mesmo, interessado de conquistar-se.

Quando, pois, se atinge o nível do conforto, do bem-estar, diminuindo a quota de tempo nas atividades mais grosseiras que lhe asseguravam a sobrevivência física - faz-se o tempo de sua espiritualização. Antes, tal ocorrência seria impraticável, porque ele estaria inteiramente empenhado na luta contra o meio, imaturo para autodescobrir-se.

Tão logo o homem vença a euforia de suas conquistas, asserenando o próprio ânimo, eis que se compenetra que não basta apropriar-se de leis de natureza material, fazendo-se um escravo de suas máquinas e de seus desejos satisfeitos. Técnicas são meios e não um fim em si. A criatura está segura dessa realidade maior. Tão exclusivamente não encontra, porém, nas religiões organizadas, respostas às suas necessidades profundas, deparando-se com um sacerdócio empenhado em retirar um quinhão de tudo quanto ocorre, na preservação de seu patrimônio, e interessado em garantir-se de que poderá encontrar fórmula mágica para, no tumulto que ocorre nos instantes de alforria, forjar algemas para atrelar a Humanidade aos seus programas particularistas e temporais.

A técnica não faz mal ao homem. A ausência de evolução religiosa, a falência de autenticidade é que, nesta quadra especialíssima do progresso, distanciam o homem dos templos de fé, imantando as suas esperanças nas retortas dos laboratórios, de onde espera ver surgir a equação dos seus conflitos íntimos.

Uma pílula para curar insanidade!

Uma inalação química para produzir um gênio!

Um programa educacional para suprir o vazio de sua alma ou a explosão de instinto aviltados num mergulhar em apetites grosseiros.

Drogas anticoncepcionais para sensualismo desenfreado.

Filhos de laboratório para povoar o mundo!

Em meio a essa dolorosa experiência de nosso século, o Espiritismo-cristão é a mensagem de luz que atravessa as trevas, convocando o homem para a descoberta de seu mundo íntimo, para a liberação, afinal, de suas forças interiores, a fim de que se refaça o equilíbrio de seus sentimentos, através da integração da criatura em sua verdadeira natureza.


Reformador - julho/1970


Roque Jacintho