Entrevista: Liderança Espírita

ÍNTEGRA DE ENTREVISTA DE ALKÍNDAR DE OLIVEIRA
NO JORNAL “FOLHA ESPÍRITA”, EDIÇÃO DE FEVEREIRO/2.005.

TEMA DA ENTREVISTA:
LIDERANÇA ESPÍRITA


Alkíndar de Oliveira (alkindar@terra.com.br), nascido em Magda-SP aos 19 de julho de 1.951, é casado com Regina Célia e tem três filhos: Regina, Renata e Rafael. Atualmente reside em São Paulo-SP e é freqüentador do Grupo Espírita Batuíra, no bairro de Perdizes. Viveu sua infância e adolescência na cidade de Auriflama-SP. Profissionalmente é especialista em treinamentos e consultorias empresariais na área COMPORTAMENTAL, com ênfase nos segmentos da COMUNICAÇÃO, da MOTIVAÇÃO, da CRIATIVIDADE, da LIDERANÇA e da HUMANIZAÇÃO do ambiente organizacional. Tem entre seus clientes empresas como: ACRILEX – ATLAS SCHINDLER – DUPONT – MCDONALD’S – PORTO SEGURO SEGUROS – 3M DO BRASIL – VOLKSWAGEN.
No meio espírita ministra seminários com o objetivo de transmitir, aos adeptos da Doutrina, a conjugação dos seus estudos doutrinários com sua vivência na área de treinamento profissional.
É autor dos seguintes livros:
SEGMENTO EMPRESARIAL:
• TORNE POSSÍVEL O IMPOSSÍVEL, Editora Butterfly,
SEGMENTO EMPRESARIAL & ESPIRITUAL:
• ESPIRITUALIDADE NA EMPRESA, Editora Butterfly,
• VIVER BEM É SIMPLES, NÓS É QUE COMPLICAMOS, Editora Didier,
SEGMENTO ESPÍRITA:
• O TRABALHO VOLUNTÁRIO NA CASA ESPÍRITA, Editora Petit,
• O ESPÍRITA DO SÉCULO XXI, Editora Bezerra de Menezes


Como está a atual liderança espírita?
Muito melhor do que antes.
Ministro seminários espíritas há aproximadamente 25 anos. E de três anos para cá percebo uma mudança surpreendente, positivamente falando. Óbvio que existem exceções. Óbvio que existem ainda lideranças inadequadas, mas de forma geral os líderes atuais de todas as idades estão mais abertos às mudanças. Parece-me que há uma vibração energética-espiritual no ar, que está abrindo cabeças e corações. É incrível como coisas boas estão ocorrendo na liderança espírita. Os pensamentos estão mudando muito. Para melhor. Há 25 anos, há 15 anos, há 10 anos, há 3 anos, eu não faria essa afirmação. Mas, repito, existem ainda as exceções. Existem ainda líderes que não se atualizaram. Existem ainda líderes que não sabem o que é ser um líder.

O que é “ser um líder”?
Só a resposta a esta pergunta daria um livro, mas, de forma sucinta, hoje o bom líder é aquele que sabe formar equipes e tem como meta primordial não atrapalha-las. O líder que não atrapalha seus liderados merece o nome de líder.
O líder de antigamente era aquele que ia à frente. O líder de hoje é aquele que vai atrás apoiando e estimulando.
O líder de antigamente era aquele que por si só fazia acontecer. O líder de hoje é aquele que forma equipes para que essas equipes façam acontecer.
O líder de antigamente controlava pessoas. O líder de hoje controla processos e incentiva a liberdade e a autonomia da equipe.
O líder de antigamente muito se destacava. O líder de hoje é aquele que estimula sua equipe a se destacar, pelos resultados obtidos.
O líder de antigamente tinha subalternos. O líder de hoje tem colaboradores.
O líder de antigamente procurava converter seus liderados, forçando-os a pensarem e agirem como ele. O líder de hoje procura conscientizar seus colaboradores para que sejam eles próprios, com suas maneiras únicas e particulares de pensarem e agirem.
O líder de antigamente era aquele que liderava pela imposição. O líder de hoje é aquele que lidera pelo afeto.
Liderar hoje é formar equipes. Liderar hoje é estimular os integrantes das equipes. Liderar hoje é treinar as equipes. Liderar hoje é incentivar as equipes a elaborarem estratégias e projetos. Liderar hoje é implantar o conceito de Qualidade Total nas Casas Espíritas (o que já está fazendo, por exemplo, o Grupo Espírita Batuíra, do bairro Perdizes, São Paulo-SP). Liderar hoje é dar autonomia às equipes.
Disraeli com uma única frase define bem o que é um bom líder: “Lá vão eles. Devo seguí-los. Sou seu líder.”





O que levou a essa mudança abrupta do estilo de liderança de “antes” e “agora”?
O mundo mudou. Os desafios aumentaram. As necessidades passaram a ser muitas. O mundo passou a ser bem mais complexo. As exigências ampliaram-se.
Antes uma pessoa com pulso firme fazia as coisas acontecerem. Hoje não basta mais o ainda e sempre necessário pulso firme. Os desafios são tantos que o líder atual para conseguir resultados precisa da ação dos outros. Precisa formar equipes. Acrescente-se a isto o fato de que os espíritos que hoje estão nascendo são espíritos mais inteligentes e exigentes, não aceitam mais a liderança imposta.

O que você entende por “pulso firme”, isto é, o que significa dizer que um líder precisa ter “pulso firme”?
Primeiramente pulso firme não é desrespeitar o liderado, não é ser mal educado, não é esmurrar a mesa. Pulso firme significa ser assertivo, ser transparente, ser imparcial. Pulso firme significa ainda aplicar a máxima do Mestre “seja o seu sim, sim, seja o seu não, não”. Um líder que não se define, não merece o nome de líder.

Sabemos que existe o líder nato, mas é possível transformar em líder àquela pessoa que aparentemente não reúne nenhuma condição para tal?
Sim, é possível. Desde que ela queira.
É verdade que existem pessoas que trazem de vidas passadas a experiência da liderança, e isto facilita o seu desenvolvimento na existência atual. Mas também é verdade que, conscientes de que a centelha divina está presente em todos nós, por conseqüência a oportunidade de crescimento e desenvolvimento existe para todos. Como disse Joanna de Ângelis “Todas as qualidades necessárias para o nosso desenvolvimento já existem em nós, latentes”. Nosso trabalho não é criar qualidades, pois, reforço, elas já existem. Latentes. Nosso trabalho é desenvolve-las. Para passar a ser líder é preciso, com firme vontade, querer ser líder. E é preciso saber que não se forma um bom líder sem o tripé estudo, determinação e humildade.

O seu livro O Espírita do Século XXI, Editara EBM, foca principalmente o assunto liderança, qual foi o seu propósito principal ao escrever este seu livro?
O propósito principal foi desenvolver quatro tópicos, que os denominei de Projeto ORAR. Essa denominação deve-se ao fato das primeiras letras de cada um dos tópicos, formar a palavra ORAR:
Ousadia na divulgação;
Respeito às demais instituições;
Administração Eficaz;
Relacionamento Harmonioso.

Em relação aos tópicos citados em sua resposta acima, o que você pode nos dizer sobre o tópico “Ousadia na divulgação”?
Falta-nos ousadia. Nós estamos falando para nós mesmos. Esquecemos que o Espiritismo veio para o mundo. Kardec no seu Projeto 1.868, Obras Póstumas, prega a necessidade de publicidade (palavra utilizado por Kardec) numa larga escala. Precisamos quebrar as paredes do nosso Centro Espírita e alcançarmos toda a comunidade à nossa volta.
É preciso ser ousado para que essa publicidade numa larga escala (palavras de Kardec) se faça presente. Ousado como foi Cairbar Schutel que colocava o jornal O CLARIM sobre os bancos dos trens de passageiros que passavam por Matão-SP. Ousado como foi Eurípedes Barsanulfo que construiu no Estado mais católico do Brasil, Minas Gerais, um Colégio Espírita que ousadamente (sob orientação de Maria, Nossa Senhora, Mãe de Jesus) denominou-o Colégio ALLAN KARDEC e, por ironia, esse colégio foi edificado numa cidade com o nome de Sacramento! Ousadia também presente em Bezerra de Menezes, que no final do século XIX escrevia uma coluna espírita semanal no jornal de maior circulação do país.
Através da psicografia de Divaldo Franco, o espírito Marcelo Ribeiro, reforça a necessidade da divulgação, comentando que em relação ao Espiritismo: “Não é lícito impo-lo. Mas não é justo deixar de divulgá-lo”. Complementa o espírito Vianna de Carvalho, psicografia também de Divaldo Franco, livro Reflexões Espíritas: “Na hora da Informática com os seus valiosos recursos, o espírita não se pode marginalizar, sob pretexto pueris, em que disfarça a timidez, o desamor à causa ou a indiferença pela sua divulgação.”
É verdade que existem muitos espíritas trabalhando a divulgação de forma eficiente, mas, na maioria das vezes divulgando o Espiritismo para os próprios espíritas. Devemos ir além. Devemos não só ser eficientes, mas também eficazes, que significa divulgar essa Luz também para os não espíritas. A humanidade precisa do Espiritismo.


E sobre o tópico “Respeito às demais instituições”, o que você pode nos esclarecer?
Divulgar o Espiritismo de forma ousada não significa jamais desrespeitar as demais religiões, mas, sim, respeita-las e valoriza-las. Um espírito já disse (não me lembro qual) que o “o Espiritismo não é a religião do futuro, mas, o futuro das religiões”. Isto é, as demais religiões não deixarão de existir, mas um dia terão que estudarem Kardec, que é o que já está ocorrendo na cidade de Ribeirão Preto-SP, onde grupos de católicos carismáticos estão estudando o Livro dos Médiuns, de Kardec!!!
Se respeitarmos e passarmos a ser amigos dos líderes de outras religiões, estes terão coragem de nos perguntar sobre o Espiritismo, terão abertura para nos solicitar indicações de livros espíritas, que é o que também já está ocorrendo com centenas de pastores e padres que têm amigos espíritas.

Fale alguma coisa sobre o tópico “Administração Eficaz”.
Por falta de administração eficaz, muitas vezes a desarmonia campeia no meio espírita. Não basta exercer a liderança com amor e determinação. As técnicas administrativas precisam estar presentes.
O líder espírita precisa estudar livros sobre liderança. Por dever de oficio (e por prazer) li dezenas de livros sobre liderança. Indico um: O DESAFIO DA LIDERANÇA, de Kouses e Pozner, Editora Campus. Um dos melhores livros de liderança que existem. O líder espírita precisa participar de cursos sobre liderança. Assim agindo irá conhecer ferramentas que muito irão lhe ajudar na administração.

E sobre o último dos quatro tópicos, “Relacionamento Harmonioso”, o que você pode nos dizer sobre este tema tão desafiador dentro da nossa Seara?
O prof. Rubem Alves disse em um dos seus livros que “As coisas são os nomes que damos a elas”. Esta forte mensagem é simplesmente espetacular, pelo seu poder de síntese e esclarecimento. Seguindo a máxima do prof. Rubem Alves, para a pessoa que diz “viver é sofrer”, a vida irá provar a ela que viver é sofrer. Para a pessoa que diz “viver é aprender”, a vida irá provar a ela que viver é aprender, pois quando o sofrimento surgir, essa pessoa em vez de dizer “nasci para sofrer”, dirá “que lição preciso tirar desse meu sofrimento”. Aproveito dessa analogia para reforçar que aquele líder que diz “o problema são as pessoas”, a vida irá provar a ele que o problema são as pessoas. Mas aquele líder que diz “a solução são as pessoas”, a vida irá provar a ele que a solução são as pessoas. Qual então deve ser a escolha sensata do bom líder, dizer que “o problema são as pessoas” ou dizer que “a solução são as pessoas”?
O líder que escolhe a segunda opção (a solução está nas pessoas), irá valorizar os treinamentos e seminários na área comportamental. Em vez de criticar o colaborador, o líder irá criticar o sistema adotado, e procurará muda-lo.
Indico, para estudo em grupo, um livro que tem melhorado substancialmente o ambiente interno de centenas de Centros Espíritas: LAÇOS DE AFETO, espírito Ermance Dufaux, psicografado por Wanderley Soares de Oliveira, Editora INEDE.
Os conflitos estarão presentes onde houver seres humanos. São através dos conflitos que nos conhecemos, que descobrimos nossas fraquezas. Como diz Richard Simonetti, “o próximo é a lixa grossa que burila nossa personalidade”. Aceitar o próximo, aceitá-lo como ele é, é o nosso grande desafio. Quando descobrirmos que a convivência é a ferramenta mais apropriada para nos conhecermos, iremos aprender a administrar os conflitos. Sobre este assunto veja o que diz Ermance Dufaux, no livro Mereça ser feliz, Editora INEDE: “Não existe felicidade sem pleno conhecimento de si mesmo. O mergulho nas águas abissais do mar íntimo é indispensável. E a convivência, nesse contexto, é a Escola Bendita. Saber os motivos de nossas reações frente aos outros, entender os sentimentos e idéias nas relações é preciosa lição para o engrandecimento da alma na busca de si próprio”.
ERMANCE DUFAU
Quais são os tipos de palestras que, você, um especialista em treinamento e consultoria empresarial, tem proferido nos Centros Espíritas? O que essas palestras acrescentam ao público?
Uma observação: dedico meu tempo ministrando seminários em vez de palestras. Vejo que desenvolvendo temas com 4h de duração, fica mais fácil passar ao público as técnicas apropriadas à prática do tema. Os quatro temas mais solicitados são “Aprimorando a liderança espírita”, “Convivência & Afetividade”, “O amor está no ar” e “Conseguindo a união no meio espírita”. Também trabalho outros temas como “O trabalho voluntário na casa espírita”, “Melhorando o relacionamento na Casa Espírita”, “Desenvolvendo a auto-estima”, “Curso teórico para formação de oradores espíritas” e “Somos imortais, e daí?”.
Quanto à segunda parte de sua pergunta, vejo que os seminários, por terem a estrutura didática de treinamentos empresariais (e as empresas são exigentes em relação aos resultados a serem alcançados), acabam fornecendo procedimentos que facilitam a vivência do tema desenvolvido.

Para terminar, que conselhos você daria a um líder espírita que está a muito tempo exercendo sua liderança e também a um líder espírita que agora está iniciando os seus primeiros passos?
Começo por indicar um livro, pedindo que o leitor dê atenção especial a todos os capítulos do mesmo. São excelentes alertas à liderança. Mas, em especial, foque o primeiro capítulo, “Atitude de Amor”, que traz uma esclarecedora e fundamental (e esta é a palavra certa) mensagem de Bezerra de Menezes. O livro é SEARA BENDITA, Editora INEDE, vários autores espirituais, psicografia de Wanderley Soares de Oliveira e Maria José Soares de Oliveira. Ao espírita arredio às coisas novas, isto é, ao espírita que antes de ler o livro pensa “mas quem são esses médiuns?”, digo, com afeto: leia primeiramente o livro.
Apliquemos a máxima de Cristo “pelos frutos conhecereis a árvore”. Não condenemos a árvore sem antes conhecer a qualidade dos frutos. Sobre o livro SEARA BENDITA, ouvi de um presidente de uma das renomadas Instituições Espíritas do nosso país: “Este livro será um dos mais comentados e estudados dos próximos 20 anos.” Assino embaixo. Penso da mesma forma.

Dica ao líder antigo: é preciso atualizar-se continuamente. Dica ao líder novo: é preciso atualizar-se continuamente. Enfim, a atualização é necessária para todos nós. É preciso quebrar paradigmas, sempre com fraternidade. Nunca destruir o passado, mas, sim, construir em cima do passado. Não brigarmos por amor à causa, pois que a causa é o amor. Não brigarmos pela defesa da doutrina. Ela, disse Divaldo Franco, pura que é, não precisa de defensores. Enquanto brigamos, não a vivenciamos.
Como última informação, a liderança espírita precisa ter estratégias, precisa elaborar projetos, como as empresas. Um dos primeiros projetos que sugiro é o PROJETO DA AFETIVIDADE, com o objetivo de vivenciar o afeto dentro da casa espírita.
Por falta de estratégias e projetos, perdemos um dos bondes da divulgação do Espiritismo quando o filme “O Sexto Sentido” foi o filme mais visto pelos brasileiros no ano de 1.999. Qual é a empresa que, se soubesse que o filme mais visto do ano tivesse como tema o seu produto, não iria aproveitar da circunstância para melhor divulga-lo? E o produto do citado filme era os conceitos espíritas. Perdemos esse bonde.
Por falta de estratégia e projetos, não estamos aproveitando dos recursos financeiros que as empresas estão oferecendo às instituições assistenciais. E reclamamos da falta de dinheiro, que na realidade, está sobrando. Exemplo: a Petrobrás tem disponível R$ 303 milhões para patrocinar projetos sociais e ambientais, e tem dificuldades para escolher quem e o que patrocinar. Onde estão os nossos projetos para o levarmos à Petrobrás e às milhares de empresas que tem verbas específicas para este fim?
Por falta de estratégias e projetos, Espiritismo é ainda associado por muita gente com galinha preta na esquina. Não divulgamos essa Luz.
Por falta de estratégias e projetos, a mídia não nos procura, pois que, não nos conhece. Exemplo: sobre o atual debate que está sendo discutido por comissão do governo sobre a liberação do aborto, o jornal o Estado de São Paulo colheu depoimentos de católicos, protestantes e líderes de religiões judaicas, mas, não entrevistou os líderes da religião que, modéstia à parte, mais entende do assunto: o Espiritismo. Da mesma forma, a revista Época, de 13 de dezembro de 2.004, entrevistou católicos e protestantes sobre o tema aborto, mas não entrevistou os espíritas.
Não condenemos a mídia por não nos procurar, mas, sim, façamos reflexão sobre que estratégias e projetos estamos(?) adotando para fazermo-nos conhecidos.
Mas que a primeira estratégia e projeto seja fazer a lição de casa: PROJETO DA AFETIVIDADE NA CASA ESPÍRITA. É preciso, como disse Richard Simonetti, fazer com que o nosso conhecimento desça da cabeça para o coração!


Alkindar de Oliveira