Olvida a Própria Dor

Se ao redor do teu passo
A mágoa tumultua,
Não te esqueças que, além do teu cansaço,
Há sempre muita dor maior que a tua.

Quando triste, chorares,
Com teu sonho tocado de aflição,
Recorda as amarguras e os pesares
De quem sofre sem pão.

Se perdeste na morte um ser amado
E a saudade infinita te reclama,
Lembra aquele que vive soterrado
Em sepulcros de lama.

Se enfrentas o destino agro e sombrio,
Foge à noite em que o mundo se subleva
E recorda quem vai com fome e frio
Ao encontro da treva.

Trabalha e ajuda, embora descontente...
Além do pranto que te beija os olhos,
Correm sangue e suor de muita gente
Entre pedras e abrolhos!

Olvida a própria dor, por mais austera,
No serviço cristão,
E encontrarás na cruz que te lacera
O caminho da própria redenção.


Carmem Cinira