Numa Sociedade Regidas pelas Leis do Cristo

Estranho aparelho é a televisão. Pode elevar-nos vibracionalmente às alturas, ao assistirmos um concerto ou a um filme, despertar o orgulho patriótico ao assistirmos uma vitória esportiva como a do tenista Guga, erotizar os sentimentos ao assistirmos cenas explícitas ou implícitas de sexo, ou levar-nos à indignação ao vermos na pequena tela, ao vivo e em cores a agressividade de um homem, e o sacrifício de uma vida, como a da jovem assassinada, talvez com o maior índice de audiência registrado para um assassinato.

Acreditamos, que a maioria das pessoas sentiram uma indignação muito grande, que se tornou maior pela impotência. Certamente sentimos medo, e não poucos fecharam os vidros de seus carros, quando abordados nos semáforos, por lavadores de parabrisas, vendedores de flores, ou pedintes. Nos ônibus, não poucos temeram, olhando de canto de olho os companheiros de viagem, ou os novos passageiros que tomaram o ônibus pelo caminho.

O nosso mundo está muito violento, mas nunca passa pela nossa mente, que podemos ser a vítima. As raízes da violência são profundas, e passam pela miséria, pelo abandono, pela deseducação, pelo desamor, mas sobretudo, pela pouca evolução do espírito, vindo, talvez, de mundos ainda inferiores à Terra, ou de algum recanto obscuro do universo, numa tentativa gigantesca de dar um passo á frente na estrada da evolução. Contudo, aqui chegando, não suportam o convívio e dão o triste espetáculo da barbárie em meio da civilização.

Mas que civilização é essa que permite a miséria e a fome, as chacinas da Candelária ( o criminoso é remanescente daquela chacina), a chacina do Carandiru e tantas outras ocultas ou pouco divulgadas? Que civilização é essa onde uns poucos enriquecem e milhões de desempregados se desesperam por não conseguir meios para sustentar a família?

Em momentos de extrema selvajaria, como esse assassinato, muitas vozes clamam pela pena de morte, como se ela pudesse inibir a ação criminosa, e não fosse fator de alto risco de injustiças. Quantos já foram executados e depois se descobriu que eram inocentes. A televisão mostrou, dia desses, um homem que viveu 17 anos no corredor da morte, de uma prisão norte-americana, e agora foi descoberto, que a principal testemunha de acusação, era de fato o criminoso. Quantos não tiveram tempo ou meios para provar sua inocência? Pena de morte? Corte essa idéia!

Toda a humanidade tem um compromisso com a paz. Para nós, espíritas, esse compromisso é mais grave, pois conhecemos o motivo pelo qual fomos criados, ou seja, de alcançarmos a perfeição. Nosso mundo, ainda atrasado na escala evolutiva, precisa dar um passo avante. Na verdade ele está grávido, e a breve tempo deverá nascer um mundo novo, de paz, harmonia e bondade.

Não podemos desanimar, porque, no momento mesmo, em que o jovem tresloucado matava sua vítima e era morto pela polícia, milhares ou milhões de mãos abnegadas enxugavam lágrimas, serviam o pão, curavam feridas do corpo e da alma, trabalhavam a terra, faziam poesias, escreviam livros, guiavam a mão de uma criança no aprendizado das primeiras letras, e outro tanto de bocas falavam de amor, oravam a Deus…

Não será empunhando armas que construiremos a paz. Devemos reagir sim, contra o mal, mas vamos reagir com o coração pejado de amor.


Amilcar del Chiaro Filho