Vendo o Homem

Efêmero é esse orgulho, homem, que guardas,
Nesse mundo de angústia e de dores,
Onde soluçam seres inferiores
Entre milhões de células bastardas.

É o teu dia de dor, grande e profundo,
Sob o eterno mistério indevassado,
- És o triste fantasma encarcerado
Nas leis organogênicas do mundo.

O corpo, que é teu gozo alto e triunfante,
Que embelezas na Terra e em que presumes
Uma taça de angélicos perfumes,
É um vaso tenebroso e repugnante.

Vive nas luzes, onde não se esbarra
- A ventura que sonhas e desejas,
Pois sobre o mundo a boca com que beijas
É a mesma que vomita, cospe e escarra,

Mas se vives na Terra, por teu mal,
Cheio de sonho e dor, angústia e ânsia.
Todas as lutas são a substância
Do progresso infinito e universal.


Augusto dos Anjos