João Evangelista

Da família Zebedeu, ou Zabdias, de um "pescador bem-sucedido e empresário de vários barcos"4, foram escolhidos por Jesus dois apóstolos: Tiago Maior e João. A cidade era a pequena Betsaida. 
Segundo Ernest Renan, "eles estavam imbuídos de energia e paixão. Jesus os havia apelidado, com graça, de `filhos do trovão', por causa do zelo excessivo com que, muitas vezes, teriam feito uso do raio se dele pudessem dispor."4 
João era adolescente, portanto idealista. Com Tiago, seu irmão, e Pedro forma um comitê íntimo que se faz presente em momentos muito especiais, durante a trajetória terrena de Jesus. 
Os irmãos conheciam as pregações do Batista e foi no Tiberíades, no dia em que a primavera bordava rendados pela praia, que o Rabi os convidou a participar das alegrias da Boa-Nova, transformando-se em "pescadores de homens".4 
Humberto de Campos, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, os descreve como "de temperamento apaixonado. Profundamente generosos, tinham carinhosas e simples, ardentes e sinceras as almas."3 
Magnetizados pelo olhar enérgico e carinhoso de Jesus, aderem ao sublime convite. No idealismo quente da sua juventude, João falava de seus planos de renovar o mundo, de pregar o Evangelho às nações. Sentia-se forte e bem disposto. 
Mais tarde, ao derramar a cornucópia da sua saudade no seu Evangelho, ele falaria dos tantos momentos de êxtase e aprendizado com Jesus. 
Ao descrever o encontro do Mestre com Nicodemus, demonstra, com certeza, ter sido testemunha ocular. Uma testemunha que talvez estivesse à porta, como quem se encontra à espreita, velando pela eventual proximidade de alguém que pudesse surpreender o esclarecedor colóquio entre o Rabi Galileu e o doutor da lei. 
Quando narra o episódio das Bodas de Caná, João parece reviver o adolescente, maravilhado ante um Rabi pleno de sabedoria, que abençoa a união esponsalícia com a água lustral da Sua presença e a doçura do Seu amor. 
Com Jesus, ele adentra "a casa de Jairo, o chefe da sinagoga, cuja filha se encontrava nas malhas da agonia..."1 Há pouco, surpreendera o olhar agradecido de Verônica, a hemorroíssa, curada ao tocar o manto do Mestre. 
E quando agosto "derrama sua taça de luz e calor sobre a terra"1, ele acompanha o Rabi na íngreme subida de 562 metros até o cume do Tabor. Após as 4 horas de marcha, ele dorme junto a Pedro e Tiago. A canícula, o cansaço os vence. 
Na madrugada que avança, vozes vibram no ar. A visão sublime de Jesus, com as vestes brilhantes, dialogando com Moisés e Elias, o faria mais tarde, evocando a cena inesquecível, iniciar a sua narrativa evangélica, escrevendo: "Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens, a luz resplandecente nas trevas e as trevas não a compreenderam."
O seu Evangelho foi especialmente dirigido aos cristãos que já conheciam a Mensagem. É o Evangelho espiritual, no dizer do espírito Amélia Rodrigues. 
João, jovem, assiste com Maria, os instantes de agonia e morte do seu Mestre e Senhor, a cuja dedicação Jesus entrega sua mãe: "Filho, eis aí a tua mãe!" E desencumbiu-se da missão, oferecendo-lhe "o refúgio amoroso de sua proteção".3 
João foi com Pedro à Samaria, depois da ascensão de Jesus, e mais tarde voltou a Jerusalém, trabalhando na Casa do Caminho. Mereceu a prisão com Pedro e, libertado, prosseguiu nas atividades. 
Após se instalar em Éfeso, busca Maria e a abriga em sua casa, doada por membro da família real de Adiabene. "No alto da pequena colina, distante dos homens e no altar imponente da Natureza, se reuniriam ambos para cultivar a lembrança permanente de Jesus. Estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os espíritos de boa vontade e, como mãe e filho, iniciariam uma nova era de amor, na comunidade universal."3 
Perseguido por Domiciano, foi enviado para Roma, sendo depois exilado na ilha de Patmos, onde teve ocasião de escrever o Apocalipse. Depois da morte de Domiciano, voltou para Éfeso e aí morreu quase centenário. 
É o único dos apóstolos a desencarnar de forma natural. A ele são atribuídas também 3 epístolas: a primeira dirigida aos fiéis da Ásia menor e que, segundo alguns, parece ter sido escrita como prefácio ao quarto Evangelho; a segunda à senhora Electa e seus filhos, qualificando-o alguma Igreja na Ásia menor e a terceira, a Gaio, um rico cristão. É uma carta íntima e repleta de gratidão. 
No ocaso do século XII, João retorna ao cenário do mundo, na figura de Francesco Bernardone, para se tornar "o pobre de Assis". 
"Francisco, ao largo da sua trajetória corporal, tudo de si investiu para que o modelo crístico fosse a sua referência, na sede que demonstrava de segui-Lo, de imitá-Lo. 
Trabalhou, sofreu, chorou muito, sem que tivesse imposto a ninguém qualquer dor, qualquer sofrimento. Ao contrário, ocultava suas lágrimas pessoais, quando se tratava de atender a terceiros. Ele conhecia e convivia com o Espírito do Cristo, mas entendia que o semelhante deveria ver o Cristo por meio das suas ações amorosas."2 
Como o cantador de Deus, escreveu os doces versos que o espírito Camilo denomina A carta magna da Paz, que inicia com o "Senhor, faze-me um instrumento da tua paz... Daí, desdobram-se rogativas corajosas e estelares, desvelando a pujança das acrisoladas virtudes do Pobrezinho, virtudes que marcariam sua existência até os momentos finais da sua vida terrena."2 
É este mesmo João/Francisco/Amor que assina em primeiro lugar os "Prolegômenos"de O livro dos espíritos. O instrumento de Deus atende, outra vez, ao chamado do Pastor e vem oferecer ao mundo o Consolador. 
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VIII, item 18, recorda a doçura do encontro de Jesus com as crianças em que o Príncipe da Paz se detém a atendê-las. Nas suas linhas podemos reconhecer o autor do 4º Evangelho e especialmente quando assim se expressa, referindo-se ao Mestre: "Ele foi o facho que ilumina as trevas, a claridade material que toca a despertar.(...)"


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