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Recentemente presenciei uma cena curiosa, infelizmente muito comum: na ânsia de fazer com que a filha decorasse a tabuada, a mãe ameaçava-lhe com castigos ao mesmo tempo em que dizia não se conformar com o comportamento da menina, que não tinha paciência nem raciocinava direito. A cena estendeu-se por intermináveis minutos, até culminar em alguns tapas da mãe no rosto de sua filha. Analisemos a cena, sob o prisma da educação.

A mãe estava preocupada em que a filha decorasse a tabuada, ou seja, fizesse uso da memorização, mas ao mesmo tempo queria que a menina "raciocinasse" sobre as respostas que dava verbalmente. Impaciente, vimos a mãe apresentar os resultados antes que a filha os pensasse. E se era para raciocinar, essa mãe esqueceu algo fundamental: nenhum raciocínio pode ser feito se não conhecemos a causa do objeto e sua aplicação prática. Tabuada? E qual sua utilidade? Que mecanismos matemáticos a compõem? Embora seja operacionalmente classificada como multiplicação, sua base está na soma de um elemento constante. Mas a menina não teve tempo hábil para perceber isso, nem foi levada a ter esse raciocínio. Havia de decorar e pronto.

A mãe irritou-se, ficou impaciente, emitiu julgamentos inferiorizando a capacidade da filha e terminou por usar a violência. E como a filha reclamasse e se indispusesse ao estudo, antes do final da cena, ou melhor, para finalizá-la, comentou, dirigindo-se à filha: "Você é muito arrogante e quer mandar nos outros. Tem de estudar e pronto!"

Perguntamos: de onde essa menina retira os exemplos para a formação de sua personalidade? Sua mãe não é, porventura, "mandona", exigente? Quem é impaciente em primeiro lugar? Se a menina se rebela, responde à mãe, é antes por culpa desta última, que deveria dar exemplos de paciência, uso lógico do raciocínio, conversação amiga, etc. Depois a filha será pega em atos de violência para com a boneca de estimação ou com o cachorro da casa, e logo teremos o julgamento: essa menina é muito violenta, uma peste, não sei de onde vem este comportamento... São os pais ingênuos nas suas análises, ou verdadeiramente ignorantes do processo educacional de formação do caráter e desenvolvimento da inteligência.

O comportamento vem do que a criança observa e recebe no seio doméstico, o que ela trabalha a partir de suas tendências inatas, como ser integral que é. Recebendo diariamente esses exemplos, como os da cena descrita, qual poderá ser a personalidade dessa criança?

E depois dizem que a influência da família é diminuta. Como, se é exercida todos os dias, durante várias horas e repetidamente? A formação da personalidade das crianças é de competência dos pais, e depende inteiramente dos exemplos que os mesmos dão aos filhos. A família é, por excelência, agente educacional moral dos seus membros, e por deixar esse papel de lado, com o relaxamento dos laços que unem os pais aos filhos, provocou ao longo das últimas décadas as desarmonias sociais que estamos assistindo e vivenciando. Muitos podem discordar dessa afirmativa, mas é importante avaliar, com isenção de ânimo, o que fazem diariamente para essa educação.

O que dizer de um pai que controla tudo o que o filho come e bebe, a bem de sua saúde, quando declara abertamente que ele, por ser adulto, jamais abandonará a bebida, e bebe na frente do filho? Exemplos, sempre os exemplos… A tendência da criança é seguir os modelos que lhe são apresentados, e quem se modela, depois de modelado dificilmente mudará conceitos e atitudes, a não ser que a dor lhe visite, muitas vezes bem dolorida…

O texto acima, leitor, é de autoria de BRUNO ZAMINSK, e o transcrevi na íntegra do jornal CONSTRUIR (edição do Cenesp-Centro de Estudos Pedagógicos, fone 021-260-8731), face à sua importância para todos nós, atuais e futuros pais, que tantas vezes nos equivocamos na educação das crianças. Vale pensar nos efeitos futuros...

O CENESP é dirigido pelo companheiro MARCUS ALBERTO DE MÁRIO, conhecido educador paulista radicado no Rio-RJ, articulista de nossa imprensa e autor de vários livros, especialmente voltados à educação e edita o jornal CONSTRUIR.


Por: Orson Carrara, Texto enviado pelo próprio autor para publicação em nosso site


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