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Eis uma elucidativa história da tradição sufi: Mullá Nasrudin era um simples barqueiro, que conduzia as pessoas da margem de um rio para a outra. Certa ocasião, um doutor muito erudito o procura, para fazer a travessia. Entrando no barco, o doutor indaga ao barqueiro: “Você estudou matemática ou filosofia?” “Não”, respondeu Nasrudin. O doutor então concluiu: “Sinto muito, você perdeu a metade da sua existência!” Um pouco depois, o barco colidiu com uma pedra e começou a naufragar. Então, o barqueiro indagou ao assustado doutor: “Você aprendeu a nadar?” “Não”, ele respondeu, alarmado. “Sinto muito, você perdeu toda a sua existência!”, sentenciou o mestre.
A abordagem transdisciplinar, que tem sido conclamada por importantes documentos da Unesco, desde a Declaração de Veneza (1986), pela lúcida ousadia do seu ilustre mentor, Basarab Nicolescu, representa o grande desafio educacional de nosso momento histórico. Desde o congresso de Locarno (1997), há o destaque de seus quatro pilares fundamentais: educar para conhecer, educar para fazer, educar para conviver, educar para ser. A educação convencional apenas se dedica às duas primeiras tarefas. Como educar para conviver? Como educar para ser? Em outras palavras, como facilitar que o educando aprenda a nadar nas águas vastas e turbulentas da subjetividade, da intersubjetividade, do processo evolutivo da individuação?
Educar para conviver exige uma alfabetização psíquica, da qual tanto necessitamos: resgatar a alma, que foi exorcizada pelo racionalismo científico. Primeiramente, através do desenvolvimento harmonioso das quatro funções psíquicas, pesquisadas por Jung: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Trata-se de cultivar as funções indiferenciadas, integrando-as com as mais desenvolvidas. Por outro lado, é fundamental cuidar do universo dos sonhos, já pesquisado cientificamente há mais de um século. Para tal, necessitamos de uma pedagogia do imaginal, que facilite o desenvolvimento da inteligência simbólica. Finalmente, incluir em nossos currículos uma dinâmica sistêmica grupal, para o desenvolvimento da inteligência afetiva e relacional.
Um passo além, educar para ser solicita um processo iniciático que facilite ao Aprendiz o desvelar do tesouro vocacional, atualizando o seu potencial de plenitude, por uma via anímica que, do ego, possa conduzir ao Self, o Mestre interior.
O resgate do que podemos denominar de uma educação perene, centrada na natureza, talvez seja o desafio mais nobre e instigante do século XXI. É o que a Universidade Holística Internacional, a Unipaz, tem feito há mais de quinze anos através de programas já consagrados, como o da Formação Holística de Base, e o de autoria de Pierre Weil, A Arte de Viver em Paz, reconhecido pela Unesco como um efetivo método holístico de educação ara uma cultura de paz.
Como sintetizava o mestre Confúcio, há mais de dois milênios:
Aos quinze anos orientei o meu coração para aprender.
Aos trinta, plantei meus pés firmemente no chão.
Aos quarenta, não mais sofria de perplexidade.
Aos cinqüenta, eu sabia quais eram os preceitos do céu.
Aos sessenta, eu os ouvia com ouvido dócil.
Aos setenta, eu podia seguir as indicações do meu próprio coração, pois o que eu desejava não mais excedia as fronteiras da Justiça.


Por: Roberto Crema - Revista Delfos, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.


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